“Por enquanto estou bem-disposta. Só queria era almoçar, se houvesse, mas aqui não vão dar almoço a ninguém... Eles nem perdoam o transporte para vir levar uma injeção”, disse Edite Nabiço à Lusa, deixando um recado ao presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais: “Agora vou ter com o Isaltino para pagar o transporte”.
Com 97 anos e muito sentido de humor, Edite Nabiço assegurou não sentir qualquer reação adversa após a administração da vacina, à imagem das doses anteriores. “Tenho apanhado as vacinas todas e acho que não tive problemas. Esta não me deu abalo nenhum. Também não me lembro [das anteriores], mas, graças a Deus, andei sempre bem-disposta”, referiu.
De máscara no rosto e lenço à volta do cabelo, Edite Nabiço rejeitou ainda qualquer sentimento de medo ou dúvida relativamente à vacina contra a covid-19, quer atualmente, quer na fase mais precoce da pandemia, em que existia ainda algum desconhecimento em torno do seu desenvolvimento e de potenciais reações secundárias.
“Medo do quê? Quando era costureira tinha mais medo da agulha me picar nos dedos do que da vacina. É verdade. Não tenho medo nenhum. Já estou mais para lá do que para cá… vou ter medo do quê? Não tenho medo de nada. Sempre me soube defender”, acrescentou Edite Nabiço, que veio sozinha desde Porto Salvo para receber a sua quarta dose contra a covid-19.
Sentado em outra fila de cadeiras, António Bernardo aguardava junto da filha Maria Glória o fim do período de recobro e a chegada do táxi para regressarem a casa, com a satisfação de receber nova dose da vacina e poder continuar a escapar à doença, sentindo-se “mais seguro” face à adaptação das novas vacinas à variante Ómicron do coronavírus SARS-CoV-2.
“Estou a sentir-me bastante bem. Até agora não tive dor nenhuma e nas anteriores tomas também não senti nada. Por enquanto, não tive doença nenhuma, tenho tido muito cuidado”, disse o António Bernardo, de 97 anos, acrescentando: “Não tive dúvida nenhuma, quis sempre levar a vacina e tenho levado sempre. Até agora não tivemos problemas nenhuns com a covid”.
Enquanto outros, a passo lento, se encaminhavam para o interior do pavilhão desportivo Carlos Queiroz - que alberga desde o início da pandemia o ponto de vacinação contra a covid-19 em Carnaxide -, Maria Pinto já aguardava serenamente a conclusão do recobro recomendado de 30 minutos no exterior e sem “reação nenhuma” à vacina.
“Foi como se não tivesse levado nada. Nas anteriores [doses] também não senti nada”, disse a antiga professora nas escolas do concelho de Oeiras. Aos 96 anos, Maria Pinto revelou já ter tido covid-19 no passado, mas garantiu que a doença “foi levezinha” e não exigiu grandes cuidados de saúde ou o afastamento da família, até porque, explicou, sempre foi “muito cumpridora em coisas de saúde”.
“Passei o dia inteiro sem saber que tinha e calcularam que eu devia ter covid porque me assoava. Mas nunca senti nada. A família teve o cuidado normal e estivemos sempre juntos. Eles também já tiveram covid, mas foi uma coisa normal”, resumiu.
Inicialmente preparado para vacinar cerca de 2.000 pessoas por dia na fase mais ativa da pandemia, o centro de vacinação de Carnaxide está agora concebido para administrar diariamente vacinas a somente 800 pessoas. Por isso, a enfermeira Célia Samico admitiu que o processo é hoje mais simples.
“Em termos de desafios está mais facilitado. O número de pessoas é inferior, estamos em doses de reforço e já não existe o receio de uma vacina nova, do desconhecido ou dos efeitos secundários, portanto, o processo de vacinação está facilitado em termos de gestão e organização. A população já adere sem receios”, esclareceu.
Segundo a responsável do centro de vacinação de Carnaxide, que integrou este espaço desde a primeira hora do processo, em fevereiro de 2021, a expectativa de adesão das pessoas continua a ser elevada, ainda que esta fase inicial contemple apenas as pessoas acima dos 80 anos, vacinando todos com mais de 60 anos ou pessoas com comorbilidades até dezembro.
“Espero que a adesão seja elevada, porque estamos agora com uma vacina melhor preparada para a circulação do vírus atual. Estamos com a variante Ómicron e esta vacina já vem adaptada a essa estirpe e irá dar-nos uma proteção que anteriormente não era tão direcionada”, observou, continuando: “Hoje estamos com agendamentos dos 92 aos 104 anos e esta, normalmente, é uma faixa etária que adere. Esperamos que assim seja”.
Com mais de ano e meio de envolvimento na vacinação contra a covid-19, Célia Samico não escondeu o desgaste causado por todo o processo, mas reiterou que “os profissionais de saúde são muito resilientes” e que a pressão agora é igualmente menor, possibilitando uma resposta adequada dos serviços.
“Teremos a capacidade de responder à altura daquele que é o desafio. De facto, estamos a retomar a atividade (assistencial), mas também estamos numa fase da pandemia diferente e a urgência - como tivemos no início, ao fazer uma primovacinação em que tínhamos toda a população sem qualquer cobertura vacinal - é diferente daquilo que é hoje em dia. As pessoas já estão protegidas de alguma forma e isso também dá para alongar mais no tempo o processo de vacinação e exige menos recursos humanos”, concluiu.
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