A alimentação equilibrada e diversificada contribui de forma substancial para a saúde da mulher nas diferentes fases da vida. Os estudos mostram que antes da conceção, durante a gravidez e no período pós-gravidez são muitas as mudanças ao nível das necessidades nutricionais da mulher.
A nova Consulta de Nutrição Pós-Gravidez, lançada pela NOVA Medical School, pretende estabelecer um aconselhamento alimentar personalizado, adaptado às circunstâncias e expectativas de cada mãe, que lhe permita recuperar a sua forma física e cuidar do seu estado nutricional, para melhor responder às necessidades da sua família.
Falámos com Inês Barreiros Mota, nutricionista e professora convidada da NOVA Medical School, e uma das profissionais que ministra esta consulta.
Qual a importância de uma Consulta de Nutrição Pós-Gravidez? É fundamental olhar para a alimentação nesta fase específica da mulher?
Esta consulta oferece um acompanhamento personalizado e adaptado aos desafios que o período pós-gravidez pode representar para a mulher. Na Consulta de Nutrição Pós-Gravidez temos em consideração não só as exigências nutricionais inerentes à lactação, como a questão do pouco tempo disponível para os momentos das refeições e a inerente gestão de cansaço que caracterizam esta fase da vida da mulher.
E porque não uma consulta de nutrição durante a gravidez? Ou até mesmo antes de pensar engravidar?
A nutrição faz parte dos cuidados de saúde que devem ser prestados ao longo de todo o ciclo de vida: da pré-conceção (antes da gravidez) até, pelo menos, aos dois primeiros anos de vida da criança, em que o ter uma alimentação equilibrada e diversificada contribui de forma substancial para um bom estado de saúde. Contudo, a decisão de nos forcarmos no momento pós-gravidez deve-se ao facto de que, não raras vezes, após o nascimento do bebé, os cuidados com a mãe, incluindo o seu estado nutricional, tornam-se secundários. Partindo do pressuposto de que para cuidar é essencial estar bem, pretendemos tornar mais simples os cuidados alimentares essenciais para a mulher nesta fase da vida.
Que alimentos não devem faltar na alimentação de uma grávida? O que se deve evitar?
Uma mulher saudável no momento da conceção tem mais probabilidade de ter uma gravidez bem-sucedida e um filho saudável. A gravidez constitui uma janela de oportunidade para a adoção de bons hábitos alimentares, até porque a evidência é clara de que a suscetibilidade para o desenvolvimento de doenças como a obesidade na vida adulta é pré-determinada numa fase muito precoce do ciclo de vida, ainda no útero da mãe. A alimentação e estilos de vida antes da mulher engravidar e durante a gravidez podem influenciar não só a sua saúde e fertilidade, mas também podem afetar o crescimento e a saúde do seu filho a longo prazo.
Durante a gravidez, ocorrem alterações metabólicas e fisiológicas na gestante que asseguram o crescimento e o desenvolvimento do feto e que justificam o aumento das necessidades energéticas e nutricionais. Principalmente durante o segundo e terceiro trimestres da gravidez, ocorre a reserva de nutrientes no feto para utilização nos primeiros anos de vida, onde há um crescimento acelerado. Apesar da gestante necessitar de um maior aporte energético, mais importante será a prática de uma alimentação nutricionalmente adequada. O aumento das necessidades de proteína e de vários micronutrientes chega a ser superior ao aumento das necessidades energéticas, nestas fases.
Recomendações importantes passam por ter uma alimentação equilibrada e variada, iniciando as refeições principais com a sopa e procurando dividir os diferentes componentes do prato na disposição em T (¼ do prato com uma fonte de cereais e derivados, tubérculos ou leguminosas + ¼ do prato com carne, pescado ou ovos + ½ do prato com hortícolas) e terminando a refeição com uma peça de fruta, procurando consumir pelo menos uma peça de fruta rica em vitamina C – kiwi e laranja – e 1x por dia hortícolas de folha verde escura.
Por outro lado, deverá evitar o consumo de refrigerantes e sumos de fruta, limitar o consumo de café (não mais do que 2 por dia) e não ingerir qualquer quantidade de bebidas alcoólicas. No que se refere a questões de segurança alimentar, também é necessário ser mais criterioso, não devendo consumir carne, pescado e ovos crus, ou leites não pasteurizados. Estas e outras indicações podem ser consultadas neste manual do Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável da Direção Geral da Saúde, e para um acompanhamento mais personalizado deverá procurar um nutricionista.
Que alimentos não devem faltar na alimentação de uma lactante?
Durante o período de lactação, as necessidades energéticas e de alguns nutrientes também estão aumentadas. Contudo, as reservas da mulher têm um enorme contributo na produção do leite materno. Quando a lactante tem um estado nutricional adequado, a qualidade do seu leite é elevada. Note-se que a adequação nutricional do leite materno mantém-se mesmo em situações extremas. Somente em casos de má-nutrição grave materna de longa duração é que se verificam alterações na qualidade do leite. Por sua vez, o estado nutricional desadequado da mãe acaba por ter um impacto muito mais marcado na quantidade de leite produzido, que pode diminuir. A mãe percebe as consequências desta desadequação nutricional, com potenciais repercussões a nível do seu sistema imunológico, sentindo-se cansada e sem energia. Uma alimentação equilibrada e variada, adequada em energia, fornece, em princípio, todos os nutrientes de que a mãe necessita e é essencial para suportar a exigência de cuidar do lactente.
Quando é que esta consulta deve ocorrer? E como aderir? Quem quiser, o que se deve fazer?
Esta consulta deve acontecer, idealmente, nas primeiras 4 semanas após o parto. O agendamento pode ser feito diretamente no nosso site ou enviando um email para nutriconsulta@nms.unl.pt.
De que forma é que a alimentação da lactante impacta no bebé? E depois na vida adulta?
A composição do leite varia em função da alimentação materna, apresentando uma grande variabilidade intra e interindividual. Por exemplo, a composição do leite humano em ácidos gordos é um reflexo da alimentação materna, tal como a concentração de selénio, iodo e algumas vitaminas do complexo B. São variadíssimos os fatores que modulam a composição do leite materno, como a duração da gravidez, alimentação materna, fase da lactação, duração das mamadas e hora do dia.
A alimentação da mãe nesta fase pode influenciar os ‘sabores’ transmitidos pelo leite e, de certo modo, influenciar a aceitação de determinados alimentos na diversificação alimentar (ex.: as hortícolas), que podem ser importantes para o estado de saúde a longo prazo.
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