A infertilidade é definida como a incapacidade de engravidar ou levar uma gravidez a termo, após 1 ano de relações sexuais desprotegidas e com a frequência necessária. Trata-se de uma condição médica que não cessa de aumentar e que, em muitos casos, só será possível de ser ultrapassada com recurso a tratamentos de procriação medicamente assistida (PMA).

Para muitos casais, a infertilidade constitui uma das experiências mais marcantes da sua vida. Numa sociedade onde se valoriza a realização e a conquista com base no esforço pessoal, a impossibilidade de procriar é vivida como uma importante perda de controlo sobre o projeto de vida. Por isso, o diagnóstico de infertilidade e o período longo (por vezes de anos), em que o casal realiza tratamentos de PMA, com taxas de sucesso reduzidas e de desfecho imprevisível, constitui uma crise que afeta ambos os elementos do casal.

Tomar consciência de que existe um problema de fertilidade é, na maioria das vezes, recebido com choque e tendência à negação. É frequente que de imediato se tente recorrer a estratégias várias para conseguir a gravidez, também por conta da crença generalizada sobre os efeitos do stress na fertilidade e sucesso dos tratamentos e dos comentários bem intencionados para que se “relaxe” ou se tire férias.

Uma primeira linha de investigação na área da psicologia teve como objectivo avaliar que factores emocionais poderiam ser causa da infertilidade, com os estudos científicos a revelar, de forma sistemática, que o stress e ansiedade não conduzem à infertilidade. A maior parte das mulheres passa por eventos de vida penosos ou situações familiares e profissionais complicadas, sem que o seu ciclo menstrual sofra alterações. Contudo, níveis muito elevados e constantes de stress podem levar a um período de tempo mais alargado para que a gravidez ocorra. Basta que haja uma diminuição da frequência ideal de relações sexuais, (provocada por depressão, stress, cansaço, excesso de trabalho, etc.) para que a gravidez tarde.

Também existe consenso generalizado de que as perturbações emocionais comuns são uma consequência da situação de infertilidade e dos tratamentos em si. Os efeitos mais evidentes e que são encontrados de forma persistente são a ansiedade e stress, a diminuição da satisfação conjugal e sexual, (por vezes com instalação de disfunção sexual) e alterações do humor. De forma crescente a satisfação com a vida e capacidade de sentir alegria vão-se deteriorando, podendo conduzir a um humor depressivo ou depressão clínica. Algumas mulheres situam os seus níveis de stress, como estando logo a seguir aos sentidos aquando da morte de um familiar ou do divórcio.

Sendo normal e esperado existirem fases de maior abatimento ao longo do processo, se de forma persistente se sentir uma grande tristeza e desalento, falta de motivação,

dificuldades de concentração e em tomar decisões, incapacidade em sentir prazer em atividades que anteriormente satisfaziam, estar demasiado sensível e vulnerável etc. será benéfico procurar ajuda psicológica.

A intervenção psicológica foca-se sobretudo na ajuda para lidar com diagnóstico de infertilidade e os seus efeitos psicológicos. Facilita aceitar e lidar com o turbilhão emocional, com pensamentos sentidos como negativos, encontrar estratégias para lidar com o stress e a aumentar a resiliência para lidar com os desafios dos tratamentos e possíveis insucessos. Poderá ser benéfica para um casal, quando existem dificuldades na comunicação ou existam alterações no relacionamento conjugal e/ou sexual. Adicionalmente, pode ser um espaço e momento que possibilite explorar os sentimentos associados às diversas alternativas de tratamentos, discutir de opções de tratamento ou futuras, sejam elas de prosseguir ou parar os tratamentos de fertilidade.

O apoio psicológico poderá ajudar a aceitar que a infertilidade é uma crise temporária e que as dificuldades emocionais tendem a esbater-se no tempo, quer surja a gravidez, se opte por outras formas de parentalidade ou se opte pela não parentalidade.