Em declarações à agência Lusa, Mariana Farraia, primeira autora do artigo publicado na revista ‘Allergy’, explicou hoje que o objetivo da investigação era “comparar a custo-efetividade da imunoterapia administrada por via subcutânea com a custo-efetividade do tratamento sintomático”, algo que a literatura não contemplava.
Segundo a investigadora, em Portugal estima-se que a asma afete a qualidade de vida, produtividade e custos com cuidados de saúde de 6.8% dos indivíduos, percentagem que aumenta significativamente na população pediátrica (7.2%).
“O tratamento da asma é por norma sintomático, ou seja, são prescritos fármacos aos pacientes como corticoides ou broncodilatadores para tratar os sintomas da doença”, salientou Mariana Farraia, destacando que as vacinas antialérgicas têm efeitos modificadores na doença, aumentando a tolerância imunitária.
Para perceberem se as vacinas antialérgicas seriam custo-efetivas no tratamento de crianças com asma a ácaros, os investigadores criaram um modelo hipotético, baseado num modelo de Markov, onde avaliaram três estratégias de tratamento: a imunoterapia subcutânea, a imunoterapia sublingual e o tratamento ‘standard’.
Neste modelo, foram avaliados dados de três hipotéticas ‘coortes’ de 1.000 crianças, com 12 anos, que sofriam asma provocada por alergénios, por um período de 10 anos (dividido em avaliações clínicas semestrais de acordo com a perspetiva do Sistema Nacional de Saúde).
Recorrendo a dados da literatura e ensaios clínicos, os investigadores simularam os diferentes estados de saúde que os doentes atravessariam durante o tratamento e concluíram que “o estado de saúde das crianças ia melhorando ao longo de tempo”.
Ao mesmo tempo, a probabilidade de remissão da doença aumentava nos casos em que as vacinas antialérgicas eram administradas por, pelo menos, três anos.
“Com a introdução do tratamento de imunoterapia observamos uma diminuição destas exacerbações”, salientou a investigadora, notando que apesar das vacinas serem mais dispendiosas, “acabam por ser vantajosas e benéficas”.
“As vacinas possibilitam também uma diminuição no uso de medicação sintomática e reduzem as exacerbações”, destacou Mariana Farraia.
Os resultados do artigo demonstram a necessidade de as vacinas antialérgicas serem “comparticipadas” por forma a reduzir as desigualdades no acesso à saúde.
“Este estudo pretende chamar a atenção para a importância de se diminuírem as desigualdades no acesso a esta terapia e melhorar a gestão da doença alérgica”, salientou Mariana Farraia.
O estudo, desenvolvido no âmbito do projeto de doutoramento da investigadora, foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Comentários