A investigação, da autoria de Sofia da Silva, Luís Azevedo e Miguel Ricou, e a que a Lusa teve hoje acesso, teve como objetivo auscultar a opinião de médicos portugueses de diferentes especialidades, nomeadamente de Anestesiologia, Medicina Geral e Familiar, Medicina Interna, Oncologia e Psiquiatria, quanto à prática e legalização da eutanásia. Foram ouvidos 251 profissionais de seis hospitais e de 15 centros de saúde da região Norte do país.
Os resultados indicam que a maioria dos médicos é a favor da legalização da eutanásia, sobretudo os mais novos, com menos experiência profissional e sem crenças religiosas.
No entanto, segundo os investigadores, “a opinião dos médicos é fortemente influenciada pelos cenários concretos que lhes são apresentados”.
“O apelo a um caso concreto é determinante para promover a aceitação da eutanásia”, explicou Miguel Ricou, investigador do CINTESIS na área da Bioética e Ética Médica e docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Assim, esclarece, enquanto 55% concordam com cenários de eutanásia voluntária (em circunstâncias em que está explícita a vontade do adulto com doença incurável/terminal, incapacitante, com dor ou sofrimento insuportável), menos de 40% concordam com cenários de eutanásia involuntária e apenas 20% aceitam a eutanásia num “adulto com doença terminal que ainda goza de boa qualidade de vida”.
“Estes resultados evidenciam que o sofrimento manifestado pelo doente, em consequência da doença, é, para os médicos, um critério mais relevante que o respeito pela autonomia, ainda que esta última seja condição. Por exemplo, nos cenários em que eutanásia ocorre a pedido da família, isto é, de terceiros, o procedimento é tido como ‘inaceitável’ pela maioria dos participantes”, sustenta o investigador do CINTESIS.
De acordo com os autores, este estudo reforça a ideia de que, independentemente da evolução aparente do conceito de “boa morte”, “a eutanásia é um tema ainda controverso, representando um problema médico e social em Portugal”, defendendo, por isso, que “são necessários mais estudos sobre este tema”.
O artigo completo pode ser consultado neste link.
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