Um inquérito da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) indica que apenas 48,4% dos portugueses conhecem doenças relacionadas com o aparelho digestivo, embora 90% admita que a importância de que uma boa saúde digestiva contribui para uma vida mais saudável.
Os dados, lançados no dia em que se assinala a Saúde Digestiva e que arranca, pela primeira vez, o mês de sensibilização para o tema, indicam que as preocupações dos portugueses quanto às doenças do aparelho digestivo se focam mais no cancro digestivo, o mais frequente e dos que mais mata, desvalorizando sintomas que são mais comuns.
“As pessoas estão muito atemorizadas em relação ao cancro… ficam logo em sentido. Mas, com sintomas mais frequentes como a azia, as diarreias ou a dor abdominal, podemos melhorar muito a informação que lhes chega”, disse à Lusa o presidente da SPG, Rui Tato Marinho.
O responsável sublinha que “o aparelho digestivo é o conjunto de órgãos mais comprido do corpo humano, pois mede 10 metros da boca ao ânus, e tem seis ou sete órgãos principais, o que torna mais complexo o conhecimento aprofundado de todos estes órgãos e de todos os sintomas”.
“Com tanta informação a circular, também há ‘fake’ informação. A qualidade do que se divulga nem sempre é a melhor”, frisa Tato marinho, lembrando a importância de recorrer a informação credível, como aquela que é divulgada pelas sociedades científicas.
O inquérito lançado pela SPG indica que quase 73% respondeu de forma positiva à importância da prevenção e que cerca de um terço já visitou um gastrenterologista. Contudo, mais de metade dos portugueses não considera que os exames de rastreio e de prevenção contribuam para a melhoria da sua saúde digestiva.
“A pessoa deve visitar um gastrenterologista ainda antes de ter sintomas e antes de estar doente. Deve fazer análises ao fígado, como faz o hemograma ou as análises do colesterol, e, entre os 45/50 anos, não falhar o rastreio do cancro do cólon, que é o mais frequente entre a população portuguesa”, aconselha Rui Tato Marinho.
Reconhecendo o impacto que a pandemia de covid-19 teve nas consultas e sobretudo nos exames de rastreio, o especialista sublinha a importância de os doentes voltarem a ter confiança nos serviços – “que mostraram saber responder bem em períodos difíceis” - e não falharem os exames de rastreio.
“No primeiro mês em que houve ordem para parar e só fazer casos urgentes, houve uma paragem de 90%. Calculamos que se faziam em Portugal 1.000 colonoscopias/dia para tratar e diagnosticar casos. Passámos a fazer 10%”, explicou Tato Marinho, que considera que o país “até tem uma boa especialidade do aparelho digestivo” e que agora “é preciso recuperar”.
O presidente da SPG explica ainda: “Há agora um problema grande, pois as pessoas estão com medo de se contaminarem e nós, os médicos, para fazer os exames, temos que vestir os fatos de proteção e desinfetar as salas. Já não conseguimos fazer as coisas tão rapidamente como fazíamos. O mundo mudou”.
“Mas o que é importante é transmitir que o cancro dos órgãos do aparelho digestivo representa 1/3 de todos os cancros do país e que as pessoas devem incluir na sua estratégia de saúde viver o mais tempo possível e, aos 45/50 anos, fazer o rastreio da colonoscopia. Os pólipos que aparecem ao longo da vida, se não forem retirados podem transformar-se em cancro”, alerta.
No arranque do mês da saúde digestiva, a SPG recorda que ter um estilo de vida saudável, uma dieta equilibrada, praticar exercício físico de forma regular, evitar e corrigir a obesidade e fazer consultas periódicas com o gastrenterologista são os “princípios centrais” para prevenir doenças e garantir a boa saúde digestiva e que o diagnóstico precoce “é a forma mais eficaz de reduzir a mortalidade”, nomeadamente do cancro
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