Estamos chegados a mais um final de ano civil. O Natal como festa suprema da Família, com toda a sua simbologia e afectividade, obriga a uma “gestão de agendas” mais apertada e com planeamento de onde se vai fazer a consoada e o almoço de Natal: se na Casa dos Pais, na Casa dos Sogros, Casa de outros Familiares e Amigos, ou como acontece com muitos profissionais, se no próprio serviço, com os Colegas, etc.

A nível dos diversos e inúmeros serviços que não podem parar nem encerrar, faz-se a gestão, com algum tempo de antecedência, de permutas e rotatividades de permanência, prevenções e presenças físicas efectivas. Estou a referir-me, entre muitos, ao trabalho por turnos e Equipas de Enfermeiros.

Se por um lado, trabalhar por turnos e particularmente de noite, tem custos e desgaste elevados para a saúde, nestas épocas e datas festivas, não passar a consoada ou passagem de ano com Familiares, tem um “peso físico e psicológico” acrescido ou mesmo, muito elevado. E estas reuniões Familiares não se podem desformalizar ou tirar de “moda”. E acreditem, nestes dias/noites/datas, deixar os nossos Familiares à mesa, para ir trabalhar e tratar/cuidar/socorrer os outros, custa muito!

Chegados aqui, transportar estas questões para uma reflexão mais laboral e valorização remuneratória.

Apesar das negociações entre cinco Sindicatos de Enfermagem e este Ministério da Saúde terem corrido bem, num primeiro momento, aconteceu alguma valorização remuneratória. Mas ainda há muito para negociar e valorizar, como exemplo, temos: a valorização da Carreira de Enfermagem; Enfermagem como Profissão de risco e desgaste rápido; Antecipação do tempo e idade da reforma dos Enfermeiros.

Há uma realidade que é inequívoca: Os Enfermeiros estão exaustos, continua a falta de cerca de treze mil Enfermeiros no SNS, as Equipas estão reduzidas e desfalcadas, as solicitações, exigências e responsabilidades são cada vez maiores.

Os diagnósticos estão todos feitos. As conclusões também são bem conhecidas. Portanto, o que se pretende é decisão e acção. É o momento dos Enfermeiros passarem a ter uma Carreira digna, justa, bem remunerada e com progressão efectiva. E esta é a questão de fundo. Porque não é só o que não ganhamos (e o que já perdemos de ganhar) no final do mês, em termos de remuneração, como também, depois, no amanhã, o que se vai reflectir, no valor da aposentação. E sobre esta questão, quero pedir uma reflexão grande. Convido todos os Colegas Enfermeiros, mensalmente, a consultarem a publicação da Caixa Geral de Aposentações (CGA), para avaliarem com os próprios olhos, o descalabro e a desigualdade de aposentação/reforma, que os Enfermeiros ficam a auferir para menos, comparando com outras classes, quer da Saúde, quer de outros Ministérios. Interessa perguntar: Os sindicatos e sindicalistas, têm esta questão presente? Preocupam-se com esse “amanhã”? Perceber que estatuto, não é só pela profissão e categoria que se possui, mas também pelo que se aufere de remuneração.

Se colocarmos todas estas questões em discussão: Falta de carreira; Falta de progressão; Baixa remuneração e desadequada, face ao trabalho e responsabilidade que temos (cuidamos/tratamos de pessoas); Horas penosas mal remuneradas; Profissão de desgaste rápido e, de elevado risco e exposição dos profissionais de Enfermagem; Formação a expensas próprias e depois não reconhecida em progressão imediata; etc. etc. etc. Só podemos concluir, que ao longo destes muitos anos, os Enfermeiros foram muito mal tratados pelos seus pares, pelas suas lideranças e hierarquias, pelos seus Sindicatos que não defenderam devidamente a classe que representaram nas negociações, com os sucessivos governos e poder político.

Chegados a este momento de exaustão, devo dizer, que só nos restamos a nós mesmos, para fazer o caminho. Neste particular, apesar de muitas das questões não serem da competência da Ordem dos Enfermeiros, tem sido o actual Bastonário e a anterior Bastonária que tem estado na primeira linha, com os Enfermeiros, sempre!

Penso que o diálogo é sempre importante e deve estar sempre presente. Mas hoje e amanhã, precisamos mais de acção do que de diálogo! Olhemos para a frente. Por muito que a Inteligência Artificial (IA) esteja presente, o futuro é nosso. Temos que lutar por ele. Mas é a nós que nos cabe essa façanha. Não deixemos nas mãos de outros, o que nos cabe a nós fazer. Sejamos dignos desta luta.

Desorganizados e divididos por ideologias políticas e falta de clarividência, somos pão-de-ló para os políticos e órgãos decisores. Juntos, firmes e organizados, somos a maior classe do SNS, que com responsabilidade, coerência e capacidade reivindicativa, podemos “escrever” e conquistar algo de novo. Assim o queiramos!