“Nós precisamos urgentemente alargar a capacidade estrutural dos IPO [Institutos Portugueses de Oncologia], hospitais centrais, para dar resposta aos doentes oncológicos que nos estão a chegar, porque é desumano não conseguimos dar uma resposta atempada às pessoas que têm uma doença que pode ser altamente fatal”, alertou Luís Costa na Convenção Nacional da Saúde, que decorreu hoje na Ordem dos Médicos (OM), em Lisboa.

Para o presidente do Colégio de Especialidade de Oncologia Médica da OM, devia aproveitar-se as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para o “futuro ser melhor” na oncologia, com diagnósticos precoce, melhores resultados, e uma aposta na digitalização.

“Nós vamos ter que enfrentar agora a chamada pandemia das doenças que não puderam ser tratadas, como o cancro, e temos que aproveitar esta oportunidade”, disse, defendendo também ser necessário ativar rapidamente os rastreios e os cuidados de saúde primários.

“São duas linhas fundamentais para poder cortar a montante aquilo que nos está a chegar, porque senão vamos continuar a receber pessoas com estadios muito mais avançados”, salientou.

Mas para isso, insistiu, “é preciso dotar quem está a trabalhar de recursos e é preciso planear como é que se vai fazer a referenciação”.

Também tem de haver um plano de referenciação para estes doentes. “Se houver alguém que tenha feito uma mamografia a pedido de alguém e tenha um nódulo muito suspeito, que vai ter que fazer uma biopsia, se a pessoa for ao ‘site’ da Direção-Geral de Saúde procurar no Serviço Nacional de Saúde onde é que se deve dirigir, não está lá nada”, exemplificou.

Portanto, sustentou, “esta ideia de dizer que as pessoas escolhem onde querem ir, isso é muito bom para eleitor, é péssimo para o cidadão”.

O especialista reforçou que o sistema tem que estar preparado para poder receber as pessoas, caso contrário “os profissionais de saúde entram em exaustão e à primeira atitude vão para o privado”.

Luís Costa disse que no serviço de oncologia, que dirige no Hospital Santa Maria, em Lisboa, são atendidos mais de 1.300 novos doentes por ano e realizados 19.000 tratamentos.

“Tenho três médicas em licença maternidade, um médico em licença de paternidade e, portanto, eu tenho que dar cobertura e a minha ajuda também como é óbvio (…) porque nós estamos de facto na linha da frente para o doente oncológico e precisamos de tratar os que estão a chegar e são muitos”, salientou.

Advertiu ainda que o cancro é talvez a doença crónica mais curável, mas talvez também a mais fatal se não for diagnosticada cedo.

“Se não conseguirmos fazer nada disto é um grande custo para o doente, para a família, para a sociedade e para o Serviço Nacional de Saúde”, disse, frisando que devido à pandemia vai haver “uma avalanche enorme de doentes” que não podem ficar para trás.