O cuidado com a saúde durante a gravidez é uma das maiores preocupações, e ao mesmo tempo das mais delicadas, na medicina. Atualmente, mais de 80% das mulheres grávidas na Europa precisam de medicamentos que, dependendo de fatores como o tipo de fármaco, o momento da exposição, a dosagem e a suscetibilidade individual, podem impactar significativamente o desenvolvimento do feto. No entanto, a segurança desses medicamentos permanece envolta em incertezas, criando um desafio substancial, tanto para a ciência quanto para a prática clínica.

A avaliação da teratogenicidade - o potencial de um medicamento causar malformações congénitas - é uma tarefa extremamente complexa. Dados revelam que, dos 172 medicamentos aprovados pela FDA entre 2000 e 2010, 98% não possuíam informações claras sobre os riscos teratogénicos. Adicionalmente, um estudo destacou que apenas 4% dos medicamentos utilizados por grávidas tinham dados de segurança considerados bons ou excelentes. Esta lacuna de conhecimento expõe as futuras mães e os seus bebés a potenciais riscos, tornando a inovação na avaliação pré-clínica de medicamentos uma necessidade urgente.

A situação torna-se ainda mais crítica com o aumento do número de mulheres que engravidam aos 35 anos ou mais, um grupo que muitas vezes requer cuidados médicos especiais. No entanto, a maior parte dos dados sobre a segurança de medicamentos durante a gravidez ainda é obtida a partir de modelos animais que, além das implicações éticas, têm-se mostrado pouco preditivos para seres humanos.

Bárbara Gomes, CEO do CoLAB AccelBio
Bárbara Gomes, CEO do CoLAB AccelBio Bárbara Gomes, CEO do CoLAB AccelBio

Exemplos como o da talidomida que, apesar de aprovado em testes com animais, resultou em graves consequências para seres humanos, evidenciam as limitações dos métodos tradicionais, que muitas vezes se mostram inadequados para prever com precisão os efeitos dos medicamentos durante a gravidez.

Em resposta a esta necessidade urgente, o CoLAB AccelBio está empenhado em desenvolver alternativas para avaliação de teratogenicidade, utilizando modelos de organoides humanos. Estes organoides, que são modelos tridimensionais desenvolvidos em laboratório, replicam o desenvolvimento normal dos órgãos humanos e permitem uma avaliação mais precisa dos riscos associados à administração de fármacos durante a gravidez.

“Este projeto focará inicialmente na cardiotoxicidade, devido à alta prevalência e gravidade das malformações cardíacas, comuns no primeiro trimestre da gestação, bem como na neurotoxicidade, mas prevê-se que seja expandido para outros órgãos. Além disso, os organoides serão acoplados a estruturas que mimetizam a placenta, tornando o sistema mais representativo da realidade humana. Desta forma, estudar-se-á não só o efeito dos fármacos no desenvolvimento embrionário de órgãos, mas também a sua passagem pela placenta. A base deste projeto inovador está na identificação de biomarcadores de toxicidade embrionária, que permitem, de forma rápida e eficaz, identificar o potencial teratogénico de fármacos, tanto os já comercializados quanto os ainda em desenvolvimento. Desta forma, pretende-se combinar a capacidade dos organoides em replicar a biologia humana com um software de análise de toxicidade e disponibilizar esta tecnologia à indústria farmacêutica e de biotecnologia", revela Bárbara Gomes, CEO do CoLAB AccelBio.

Claudia Miranda e Mariana Branco, investigadoras responsáveis pelo projeto
Claudia Miranda e Mariana Branco, investigadoras responsáveis pelo projeto Cláudia Miranda e Mariana Branco, investigadoras responsáveis pelo projeto

Este projeto surge como uma resposta a um problema de saúde pública, oferecendo uma solução que equilibra a necessidade de tratamentos eficazes e seguros para grávidas com a proteção do desenvolvimento saudável do feto. O CoLAB AccelBio reafirma o seu compromisso em liderar a inovação científica com o objetivo de melhorar a saúde materno-fetal e contribuir para a criação de novas terapias que garantam a segurança das futuras gerações.