Desde 1984 que é comemorado em Portugal, a 17 de novembro, o Dia Nacional do Não Fumador. A data visa, primeiro que tudo, celebrar a saúde e congratular todos os Portugueses que decidem não fumar. É também uma oportunidade para sensibilizar as populações para os factores de risco associados ao consumo de tabaco, assim como um convite de mudança aos Portugueses que fumam.
Esta data comemorativa tem um significado especial para mim, não só por ser Médica Internista dedicada à área da prevenção e risco vascular, mas também porque foi uma das primeiras iniciativas em que participei na minha comunidade enquanto adolescente.
O consumo do tabaco, para além de ser um dos factores de risco mais importante associado às principais causas de morte, tem um grande impacto na qualidade de vida, sendo, no entanto, a primeira causa de doença possível de se prevenir. Aumenta a probabilidade de doenças crónicas como, por exemplo, a doença respiratória (bronquite crónica, enfisema pulmonar, doença pulmonar obstrutiva crónica), doença cardiovascular (cardiopatia isquémica, insuficiência cardíaca, insuficiência arterial periférica), doença cerebral (acidente vascular cerebral, demência), doenças da boca (gengivites, cáries, alteração da cor dos dentes), doença ulcerosa péptica, diminuição e perda de visão, envelhecimento precoce da pele, osteoporose, maior vulnerabilidade a infecções, redução da fertilidade feminina e impotência.
Como também é de amplo conhecimento, o tabaco aumenta o risco de desenvolvimento de vários tipos de cancro como o respiratório, digestivo, ginecológico e urinário. Para além disso, sabe-se também que os fumadores com infecção a SARS-CoV-2 acarretam maior risco de progressão para doença grave, maior risco de ventilação mecânica e maior risco de morte.
Mas, para além das consequências negativas do tabaco, importa salientar os benefícios a médio prazo da cessação tabágica, tais como o aumento da esperança e qualidade de vida, a melhoria da saúde cardiovascular, o aumento da probabilidade de ter filhos mais saudáveis, entre outros.
Já a curto prazo, há também resultados muito positivos como, por exemplo, a normalização da frequência cardíaca e pressão arterial ao fim de 20 minutos, a normalização dos níveis de monóxido de carbono após 8 horas e dá-se o início da redução do risco de doença cardiovascular após 24 horas.
Com o objectivo de melhorar a sua saúde e longevidade, cada vez mais são aqueles que tentam deixar de fumar. É, no entanto, um processo difícil de concretizar sem apoio profissional. A taxa de sucesso é comprovadamente maior quando existe uma abordagem multidisciplinar envolvendo a Medicina Interna, Pneumologia, Medicina Geral e Familiar, Nutrição, Psicologia e Enfermagem, definindo-se um plano de cessação tabágica adaptado a cada pessoa, de forma a assegurar o sucesso do tratamento.
E porque estamos em ano de mudanças de hábitos, porque não começar a pensar em aumentar a saúde individual e colectiva dos Portugueses, tomando a importante decisão de deixar de fumar?
Um artigo da médica Maria João Baptista, Assistente Hospitalar de Medicina Interna no Hospital Beatriz Ângelo e membro do Núcleo de Estudos de Prevenção e Risco Vascular.
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