"Já estão a ser observadas poeiras africanas no ar. Basta olharmos para o céu para ver que a sua cor está diferente. As poeiras estão em suspensão e, devido a efeitos óticos, o céu fica com esta tonalidade diferente, alaranjada e leitosa", disse ao SAPO Lifestyle Ângela Lourenço, meteorologista de serviço do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
As poeiras têm origem em tempestades de areia em Marrocos e na Argélia, nomeadamente no deserto do Saara, que ainda estão em curso. "Estas tempestades ainda estão a decorrer e por isso vai continuar a haver um aumento da concentração de partículas no ar", acrescentou a especialista.
Segundo a meteorologista, as poeiras com origem no norte de África derivam de um fluxo de sul "induzido pela depressão Célia" e "dependendo da sua concentração podem vir para níveis mais próximos da superfície, provocando uma redução da visibilidade horizonal, ou seja, conseguimos ver menos ao longe", explicou.
"Pode haver ainda uma degradação da qualidade do ar com impacto na saúde nomeadamente em pessoas com problemas respiratórios", advertiu Ângela Lourenço.
Pode chover lama
Segundo a meteorologista, podem ocorrer também chuvas de lama. "Se chover, haverá deposição dessas poeiras, ou seja, as gotas da chuva arrastam as poeiras para a superfície provocando essas chuvas de lama", advertiu.
A especialista adianta que a concentração de poeiras africanas no ar deve continuar a aumentar nas próximas 24 a 36 horas. "Neste momento já temos algumas observações que estão a ser validadas. As poeiras estão muito próximas da superfície", referiu.
A concentração maior verifica-se agora nas regiões norte e centro do Continente, mas há poeiras a passar também sobre França e Argélia.
Segundo o IPMA, as previsões apontam para a disseminação das poeiras a partir do final do dia 17 de março. "Se houver vento mais forte, essa concentração poderá ser minorada", concluiu.
Efeitos na saúde humana
A Direção-Geral da Saúde admitiu hoje que se verifica "uma situação de fraca qualidade do ar no Continente, com maior expressão nas regiões Norte e Centro". "Esta situação deve-se à intrusão de uma massa de ar proveniente dos desertos do Norte de África, que transporta poeiras em suspensão e que atravessa Portugal Continental, aumentando as concentrações de partículas inaláveis de origem natural no ar", lê-se no website.
"Este poluente (partículas inaláveis – PM10) tem efeitos na saúde humana, principalmente na população mais sensível, crianças e idosos, cujos cuidados de saúde devem ser redobrados durante a ocorrência destas situações", indica.
Os especialistas da Sociedade Portuguesa de Pneumologia também lançaram um alerta devido às mais recentes alterações do ar atmosférico sentido em Portugal, com recomendações específicas.
A Agência Portuguesa do Ambiente também advertiu para uma situação de fraca qualidade do ar devido a elevados níveis de partículas inaláveis.
A Agência Estatal de Meteorologia de Espanha (AEMET) também informou esta terça-feira que a poeira do Saara, que, nos últimos dias, tem atingido a região espanhola de Múrcia, no sudeste do país, deverá espalhar-se pela Península Ibérica e atingir algumas áreas do norte da Europa nos próximos dias.
Veja as fotos: As imagens das poeiras africanas em Portugal (e não só)
Madrid acordou hoje coberta por uma nuvem de partículas suspensas do deserto do Saara, que deixou ruas e carros cobertos de poeira. Veja o vídeo:
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