As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte na Europa (mais de 4 milhões de mortes por ano) devido ao enfarte agudo do miocárdio (EAM) e ao acidente vascular cerebral (AVC). Segundo a Fundação Portuguesa de Cardiologia, morrem mais 4000 mulheres do que homens por ano por doenças cardiovasculares, sendo estas a principal causa de morte das mulheres portuguesas, ultrapassando as mortes por cancro da mama.

Atualmente, as doenças cardiovasculares são uma doença subdiagnosticada e subcomunicada na população feminina, o que leva a que haja menos procura de auxílio médico. Por exemplo, no EAM, o diagnóstico é mais desafiante, pois, para além da tradicional dor no peito, pode-se apresentar apenas como cansaço extremo, tonturas, náusea ou vómito. Deste modo, antes da situação aguda e para evitar as consequências fatais, torna-se necessário alertar a população feminina para a sua prevenção, começando com a avaliação do risco cardiovascular global de 5 em 5 anos, mesmo em pessoas aparentemente saudáveis (nas mulheres com mais de 50 anos ou na pós-menopausa sem fatores de risco cardiovascular conhecidos como tabagismo, hipertensão arterial, diabetes, hipercolesterolemia ou obesidade). Caso apresentem fatores de risco, deverão ter um acompanhamento mais periódico e com abordagem multifatorial dos mesmos.

Para além destes cuidados, é também essencial alertar-se para a necessidade de se optar por um estilo de vida saudável. Assim, é de fulcral importância a dieta que deveremos adotar, pelo que se sugere a dieta mediterrânica, já que esta se associa à redução do risco cardiovascular pois é rica em azeite, fibras, cereais, fruta, vegetais, leguminosas e nozes; restringe a ingestão de carne vermelha e processada e promove a ingestão de peixe rico em ácidos gordos pelo menos uma vez por semana. É igualmente aconselhável reduzir a ingestão de sal (<5 gramas por dia) e substituir as gorduras saturadas por insaturadas (preferir gordura vegetal em detrimento da gordura animal). Deve-se, ainda, evitar ingestão abusiva de bebidas alcoólicas (máximo 100 gramas por semana), restringir consumo de açúcar (especialmente refrigerantes açucarados) e, muito importante, não fumar. Igualmente relevante é a perda de peso, insistindo na atividade física aeróbica (150-300 minutos por semana de intensidade moderada) e no treino de resistência dois ou mais dias por semana, o que, embora possa parecer uma tarefa hercúlea, resume-se a uns simples 20-30 minutos por dia! Algo também bastante difícil de alcançar é a redução do stress do dia-a-dia. No entanto, é também importantíssimo na prevenção das doenças cardiovasculares.

Para além das mudanças do estilo de vida, outro pilar significativo é o tratamento das doenças que conferem um maior risco cardiovascular, nomeadamente diabetes, hipertensão arterial ou dislipidemia, sendo que esta última apresenta tratamentos eficazes e seguros e a maioria dos fármacos, como é o caso das estatinas, encontra-se atualmente disponível a baixo custo.

As atuais recomendações para a prevenção e tratamento da doença cardiovascular são feitas numa perspetiva permanente ao longo da vida e apoiam uma relação de confiança entre o médico e a população, sendo importante aumentar o envolvimento individual de cada um na sua saúde. É importante que as pessoas se sintam motivadas a abraçar modificações do estilo de vida e que adiram à terapêutica farmacológica caso seja necessário.

As doenças cardiovasculares são um assassino silencioso que carregamos todos os dias, que alimentamos e construímos, até certo ponto. Está nas nossas mãos prevenir a morte por AVC ou EAM, tornando-nos saudáveis e cheios de vitalidade.

Um artigo da médica Catarina Reigota, interna de Medicina Interna no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC).