O impacto da Zazu, uma golden retriever de 2 anos de idade, e da Tika, uma labrador retriever de 3 anos, há muito que deixou de se cingir às crianças e familiares presentes na Ala Pediátrica, contribuindo também para momentos de relaxamento e de afeto dos profissionais de saúde, revelaram várias das fontes contactadas.
Catarina Cascais, tutora da Zazu, relatou à Lusa o trajeto de afeto conseguido entre os profissionais que trabalham no Internamento, Hospital de Dia, Neonatologia e consultas externas pediátricas que, às segundas e sextas-feiras, na companhia de Sílvia Peça, tutora da Tika, são visitados no âmbito do projeto.
“Começámos a apercebermo-nos que, para além dos benefícios diretos nas crianças, eles eram extensíveis também aos familiares e aos profissionais de saúde e de todo o hospital”, descreveu a voluntária da Ânimas, uma associação que forma cães de assistência para pessoas com deficiência que se candidatem a este auxílio, sendo que estes, terminada a formação, são entregues gratuitamente aos novos donos.
Esta perceção, segundo Catarina Cascais, alterou a “forma de pensar o projeto”, conseguindo perceber que, para além dos benefícios descritos na literatura que as crianças poderiam obter, “aos profissionais de saúde — que apresentam possibilidades de ‘burnout’ [exaustão física e mental], de ‘stress’ e de desmotivação no trabalho -, fazer festas durante cinco minutos a um cão de terapia equivale ao relaxamento conseguido em 20 minutos de descanso ou sesta. Ou seja, para além dos benefícios ao nível físico e psicológico, também lhes dá muito prazer”.
“Já nos aconteceu estarmos nos corredores e encontrarmos profissionais que nos dizem ser este o dia preferido da semana”, relatou.
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Esta ideia é partilhada pela pediatra Irene Carvalho, para quem “é muito bom ter a presença dos cães”, pois não só “fazem a diferença no dia de trabalho”, como “ajudam a melhorar o bem-estar através de um carinho e de um sorriso”.
“Dão-nos conforto”, resumiu antes de reiterar que os dias em que os cães ali estão “são os melhores da semana”.
A enfermeira Madalena Pacheco considerou à Lusa tratar-se de um projeto “há muito tempo ansiado”, descrevendo-o como “uma forma diferente de quebrar a rotina e, até, de poder mostrar as emoções, tanto dos profissionais como, eventualmente, dos pais”.
Apontou como exemplo o que acontece em “Neonatologia, onde não era expectável [esse retorno, mas onde os pais] verbalizam que se deve continuar com o projeto”.
Fazer-lhes uma “festinha”, garante a enfermeira, “é um momento, por pouco tempo que seja, que quebra um pouco esta rotina”, e a “saúde mental destes profissionais tem de ser cuidada e são coisas destas que ajudam a cuidar”.
“Se pudessem vir todos os dias acho que ninguém se aborrecia”, disse, entre sorrisos.
Nos Estados Unidos, em hospitais pediátricos de referência, estes projetos já existem há muitos anos e com bons resultados, disse ainda.
Uma das responsáveis pela chegada do projeto à Ala Pediátrica, a educadora hospitalar Gabriela Borges, reiterou que “os benefícios são diversos, e que [vão] desde as crianças, que já aguardam com alguma expectativa e carinho, até por parte dos pais, aos profissionais, que questionam se os amigos patudos já chegaram”.
“Fomos verificando ao longo destes quase seis meses que os profissionais gostam da presença dos animais, destas duplas, no serviço. Já esperam com expectativa porque querem partilhar com eles a festinha e um biscoito [que pedem aos tutores] para poder ter o seu momento com o cão”, relatou.
E se as boas práticas já extravasaram as paredes do hospital com “abordagens de outras unidades de saúde do país a perguntar pelo projeto”, revelou Gabriela Borges, continua a ser dentro de portas que surgem solicitações: “por vezes os médicos sugerem-nos visitas a um determinado quarto para ajudar uma criança internada no momento em que vão aplicar uma técnica clínica”.
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