As vacinas constituem uma das maiores realizações da humanidade, contribuindo de forma decisiva para um significativo aumento da qualidade de vida e da sobrevida através da prevenção de diversas doenças infeciosas, algumas das quais associadas a sequelas graves ou mortalidade elevada. Desde as vacinas administradas ainda na gravidez, até todo o plano de vacinação na criança, quer as vacinas do viajante, quer as específicas para determinadas doenças que ocorrem ao longo da vida, como as da hepatite ou do carcinoma do colo do útero, temos assistido a uma enorme evolução da ciência e da investigação, proporcionando às populações mais e melhores formas de prevenção de doenças infeciosas e virais graves e evitáveis, por vezes mortais e contagiosas, para as quais não existem soluções terapêuticas alternativas. A vacinação, é hoje o principal meio de prevenção primária de doenças e uma das medidas de saúde pública mais custo-efetivas.

Atualmente, dispomos de vacinas para a prevenção de mais de 20 doenças que ameaçam a nossa vida, dando segurança a pessoas de todas as idades para viverem mais e com mais saúde. Hoje, a imunização previne 2 a 3 milhões de mortes todos os anos por doenças como a difteria, tétano, gripe e sarampo. Adicionalmente, a vacinação já foi responsável pela irradicação de doenças como a varíola, estando outras quase extintas como é o caso da poliomielite. Verifica-se igualmente um aumento da esperança média de vida entre 15 a 25 anos, assim como a diminuição das hospitalizações por doença grave, promoção da nossa saúde e longevidade com qualidade de vida. A imunização é uma ferramenta fundamental da atenção primária à saúde e um direito humano indiscutível. É também um dos mais valiosos investimentos em saúde.

Do ponto de vista do doente respiratório crónico, para além do plano de vacinação contra a Covid-19, tem um particular destaque as vacinas antipneumocócicas e a vacina antigripal. Uma parte significativa destas doenças foram incluídas logo no início da primeira fase da vacinação contra a Covid-19, devendo estes doentes continuar a seguir o plano de vacinação traçado pelas autoridades de saúde e que deverá incluir uma nova dose de reforço no próximo Outono-Inverno. As doenças respiratórias crónicas associam-se, na generalidade, a um risco elevado de evolução desfavorável e de uma maior mortalidade no contexto da infeção por SarsCov-2, que tem sido significativamente mitigada com a administração da vacina contra a Covid-19.

A pneumonia e neste contexto a doença pneumocócica invasiva são uma das principais causas de mortalidade por doença respiratória, nomeadamente nos idosos. O plano de vacinação proposto, que engloba a administração de uma vacina conjugada 13-valente e de uma vacina polissacárida 23-valente que poderá ter uma dose de reforço 5 anos após a primeira administração cobre a maioria dos principais serótipos associados a doença pnumocócica invasiva, contribuindo desta forma para a redução das infeções e da mortalidade no adulto. De referir que a vacinação antipneumocócica é responsável pela significativa diminuição do número de meningites na infância e que nesta fase são responsáveis pela grande parte da doença pneumocócica invasiva.

A vacina antigripal é administrada anualmente a indivíduos com mais de 65 anos e a grupos de risco que englobam doenças crónicas, dado serem aqueles que se encontram em maior risco de desenvolver uma doença grave ou mortalidade quer diretamente pela infeção quer de forma indireta pela descompensação de doenças crónicas.

O plano de vacinação tem tido uma evolução muito positiva, nomeadamente nos grupos de risco, tendo sido alcançados vários dos objetivos considerados para o mesmo. Relativamente ao ano anterior continuou a verificar-se uma evolução positiva relativamente à cobertura vacinal relativo aos grupos considerados:

  • Cerca de 88,3% dos indivíduos com 65 ou mais anos foram vacinados em comparação com 74,6% no ano anterior;
  • Cerca de 83,4% dos indivíduos pertencentes ao grupo com doença crónica em comparação com 74,4% na época 2020/2021;
  • Cerca de 64,4% dos profissionais de saúde em contacto direto com doentes em comparação com 62,9% na época anterior;
  • Cerca de 53,3% dos indivíduos entre 60 e 64 anos vacinados contra a gripe nesta época em comparação com 40,9% em 2020/2021;
  • Cerca de 60,2% das mulheres grávidas foram vacinadas contra a gripe nesta época em comparação com 53,6% da época anterior.

Relativamente a estes números, o objetivo principal será manter os excelentes resultados nos indivíduos com mais de 65 anos e nos doentes com doença crónica. Terá de haver uma maior sensibilização e inclusão dos indivíduos entre os 60 e 64 anos no programa de vacinação nos cuidados de saúde primários. Deverá continuar o esforço de informação acerca do benefício e segurança da vacina na mulher e na criança no contexto das grávidas. Por outro lado, será necessário criar estruturas em todos os organismos de saúde e instituições de internamento de idosos e doentes crónicos para que as vacinas sejam administradas de forma fácil e rápida a todos os trabalhadores dessas instituições.

Para contrariar esta e outras realidades do impacto das doenças infeciosas é fundamental continuar a reforçar junto dos portugueses a importância da vacinação em todos os momentos da nossa vida, pois só assim será possível vivermos mais e melhor.

Um artigo do médico António Morais, pneumologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.