Em declarações à agência Lusa, o diretor clínico da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), João Filipe Raposo, indicou que o rastreio vai abranger as crianças entre os 6 e os 10 anos e poderá “ser estendido a outras regiões do país, assim que se consiga, do ponto de vista logístico, arrancar com esse processo”.
“Rastrear 10.000 crianças é francamente ambicioso, mesmo comparando com a dimensão de outros países. (…) Achamos que é importante para o nosso país termos dados firmes – robustos – sobre a população pediátrica. Portanto, vamos com o ponto central da APDP, com o apoio do Ministério da Saúde, arrancar com este projeto – que já arrancou oficialmente, mas esperamos estar no terreno em setembro de 2024”, adiantou.
O projeto europeu EDENT1FI tem como objetivo identificar as crianças e jovens em maior risco de desenvolver diabetes tipo 1 em 10 países, bem como implementar estratégias de educação e melhorar a terapêutica nos próximos cinco anos.
O EDENT1FI recebeu um financiamento de 23,5 milhões de euros através do programa da Comissão Europeia ‘Horizon Europe’ e outras entidades, dos quais 500 mil serão usados para rastrear as 10.000 crianças portuguesas.
“O rastreio em cada país europeu pode usar técnicas diferentes. Aquilo que foi apontado aqui, para Portugal, foi usar as escolas (…) para fazer a divulgação do projeto, obter os consentimentos, a explicação à família e depois ter a colheita de sangue”, realçou.
O também presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD) explicou que a ideia é uma equipa deslocar-se aos estabelecimentos de ensino e fazer a colheita a várias crianças a quem a família tivesse dado autorização.
“Aquilo que nós estamos a conseguir fazer é identificar as crianças, que já começaram o processo imunológico, o processo de reação contra o seu pâncreas e, portanto, vamos conseguir detetá-las mais cedo, alertá-las mais cedo e eventualmente começar algum tipo de medicação mais cedo também”, salientou.
João Filipe Raposo esclareceu que os sintomas clássicos da diabetes tipo 1 são: ter muita sede, muita fome, emagrecimento e adoecer muito depressa.
“São os primeiros sinais de alerta que levam normalmente a família aos cuidados de saúde, e, tipicamente, essas crianças ficam internadas, num percurso complicado” que envolve a administração de insulina, uma aprendizagem complexa sobre alimentação e atividade física.
Segundo o clínico, o início da diabetes tipo 1 “é caracterizado por um choque, um trauma significativo na vida da criança e da família”.
O diretor clínico da APDP lembrou ainda que foram as crianças e os jovens que, em primeiro lugar, começaram a ter em Portugal o acesso a bombas de insulina da primeira geração.
“O que é necessário também é que exista no país uma boa rede de equipas multidisciplinares que saibam tratar estas crianças, que tenham a capacidade de implantar esta tecnologia [bombas de insulina] e (…) ensinar e acompanhar as crianças e as famílias e as escolas”, acrescentou.
Comentários