Na madrugada de domingo (29 de outubro), em Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira quando forem 02:00 os relógios devem ser atrasados 60 minutos, passando para a 01:00.

Na Região Autónoma dos Açores, a mudança será feita à 01:00 da madrugada de domingo, passando para as 00:00.

O atual regime de mudança da hora é regulado por uma diretiva (lei comunitária) de 2000, que prevê que todos os anos os relógios sejam, respetivamente, adiantados e atrasados uma hora no último domingo de março e no último domingo de outubro, marcando o início e o fim da hora de verão.

Quais as consequências?

A mudança da hora duas vezes por ano pode ter consequências “bastante nocivas” para a saúde, afetando o sono e o regular funcionamento dos sistemas do corpo humano, concluiu um estudo recente.

O consenso é assinado por nove autores, mas foi coordenado por Miguel Meira e Cruz, que é também o presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono.

Miguel Meira e Cruz considera que os argumentos a favor da mudança horária, “que são sobretudo aspetos financeiros e económicos, não são suficientes para contrapor aqueles que parecem ser os problemas que a saúde pode enfrentar com esta atitude”.

“Mudar a hora duas vezes por ano pode ser, de facto, bastante nocivo sobretudo para alguns grupos populacionais”, por exemplo, pessoas vulneráveis em relação ao sono, pessoas imunodeprimidas ou pessoas mais velhas.

O coordenador do estudo salientou que “o principal drama aqui não parece ser exatamente a mudança de horário, mas a agressão que se faz duas vezes por ano” nos ritmos biológicos do organismo.

Explicando que o corpo humano tem “milhares de ritmos”, o especialista referiu que existe a necessidade de que toda a vida no organismo “se sincronize”.

“Quando há alguma instabilidade num relógio biológico que nós temos central, no cérebro, há uma instabilidade nesse maestro, que é o principal relógio biológico, de orquestrar todos os outros relógios biológicos”, disse, acrescentando que a alteração da hora “pode levar a consequências que podem, em algumas circunstâncias, ser dramáticas, de facto”.

Predisposição para cancro

O coordenador da investigação apontou que a discussão da mudança da hora está ligada “essencialmente ao sono”, mas que estas alterações podem ter efeitos, por exemplo, ao nível “da predisposição para o cancro” ou da frequência com que ocorrem episódios cardíacos agudos, como os enfartes.

“A agressão maior não é exatamente nós mudarmos a hora, porque adaptar-nos-íamos, uns mais depressa e outros menos depressa. A questão é que duas vezes por ano ora andamos para a frente, ora andamos para trás, e exigimos que os nossos genes, que são coisas que demoram muitos, muitos anos a adaptar, se adaptem imediatamente. E isso não acontece”, indicou.

Assim, “seguramente era menos perigoso se mudasse uma vez de dois em dois anos”, ou até mais espaçadamente, advogou, afirmando que o desejável seria a permanência “no horário de inverno, porque é aquele que mais se coaduna com o horário real do sol”.

Ainda assim, Miguel Meira e Cruz referiu que tudo dependerá da posição geográfica de cada país, porque a “mudança de horário não é tão grave em alguns países do que noutros”.

O consenso, que começou a ser preparado em agosto, mas foi “redigido no final de setembro” foi agora divulgado numa publicação especializada, mas o presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono admite que esta é apenas a primeira versão do documento.