A economia e a saúde possuem profundos vazos comunicantes. Sociedades mais ricas, e onde a riqueza está mais bem distribuída, são sociedades onde o estado de saúde da população é superior e existe maior coesão social.

As políticas públicas seguidas pelos governos, não só na área na saúde, como na área da educação, habitação, mobilidade, emprego, e a forma como enfrentam os determinantes comerciais da saúde, influenciam o estado de saúde das populações. Em regra geral, quanto mais democrática, mais rica e com justiça na distribuição deste rendimento a sociedade for, mais saudável ela será.

O contrário também é verdade. Comunidades mais saudáveis têm mais oportunidades para estudar, para adquirir novas competências e procurar trabalhos com melhores remunerações. Conseguem romper o ciclo de pobreza-doença, ganhando assim liberdade para os seus projetos de vida.

Nos Estados Unidos da América, assistimos em tempo real a outra relação entre saúde e economia: saúde pública e inflação. Desde 1 de abril de 2024 ocorreram cerca de 70 casos em humanos causados pela variante aviária do vírus influenza A (H5N1), incluindo um óbito. A emergência da nova variante, a D1.1, tem causado preocupações pela capacidade que demonstra em saltar a barreira das espécies, de aves para mamíferos, nomeadamente bovinos e humanos.

Nos últimos dois meses, mais de 41 milhões de aves de produção aviária foram afetadas pelo H5N1. Esta ameaça necessita de uma resposta assertiva por parte das autoridades de saúde americanas. Medidas como o aumento da vigilância em animais e humanos, vacinar os animais e formação aos produtores, são urgentes e necessárias.

Mas estamos perante uma nova administração americana, que vive presa no mundo da pós-verdade e da pós-ciência. A saúde pública sofre um desinvestimento sem precedentes, enquanto a pasta da ciência foi entregue a um promotor de teorias da conspiração.

A coberto de uma suposta eficiência, vários departamentos e profissionais foram despedidos. Incluindo os responsáveis pela abordagem ao H5N1. Esta abordagem incompetente a um grave problema de saúde pública, com potenciais repercussões mundiais, prejudica todos, especialmente os mais desfavorecidos.

De facto, a subida dos preços dos produtos relacionados com produção aviária, nomeadamente os ovos, atinge um máximo histórico. O que não deixa de ser irónico, pois um dos temas da campanha trazido por Trump foi precisamente o elevado preço dos ovos.

A abordagem One Health é essencial para alcançar bons resultados em saúde para todos. A saúde humana encontra-se intrinsecamente ligada à saúde animal. O caso do H5N1 é só o mais recente exemplo. É preciso vontade política, e governos que sigam a ciência, para dar a resposta necessária a mais este problema coletivo.