“A doente está clinicamente estável. Estão a ser feitos alguns exames para perceber-mos a gravidade das lesões e programarmos as próximas intervenções. Está, acima de tudo, feliz. Quando chegou e foi recebida pelo pai, a cara de felicidade dos dois é a imagem que retemos para o futuro”, disse o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ), Fernando Araújo.

Numa conferência de imprensa, na qual também participaram os diretores de serviço de Ortopedia, António Sousa, e de Urologia, Carlos Silva, foi revelado que a doente, que viajou com a mãe e com a filha, “necessitará de várias cirurgias”.

“Esta senhora tem uma ferida em quase exposição e por isso prevê-se a necessidade de várias cirurgias e de uma abordagem multidisciplinar: Ortopedia, Urologia, Cirurgia Plástica, num processo que vai ser longo seguramente”, disse António Sousa, acrescentando que a doente apresenta uma “fratura complexa da bacia” e que “a situação se complicou com uma infeção”.

“Aparentemente, do ponto de vista radiográfico, a evolução estava a ser muito favorável. Estas infeções são muito frequentes porque estes são traumatismos muito graves e não havia condições na Ucrânia para manter um seguimento”, acrescentou.

Já Carlos Silva revelou que a doente sofreu “um traumatismo pélvico muito complexo” e confirmou que esta terá “pela frente um longo processo de cirurgias de reconstrução com o envolvimento de várias especialidades”.

“Esperemos que ao longo das próximas três/quatro semanas tenhamos a situação praticamente resolvida”, concluiu.

A doente chama-se Viiktoria, tem 37 anos, e sofreu um atropelamento no dia 22 de dezembro de 2021, do qual resultaram “múltiplas lesões graves”.

Na quarta-feira, o CHUSJ adiantou à Lusa que receberia nessa noite uma doente proveniente da Ucrânia, mas uma falha técnica no avião que a transportaria de Varsóvia, na Polónia, para Portugal, adiou a transferência para a noite seguinte.

Antes, a doente foi transportada de ambulância do Hospital de Lviv, na Ucrânia, para a Polónia.

A operação foi acompanhada pelas equipas clínicas da ONG Médicos do Mundo.

Na quinta-feira, na chegada ao Hospital de São João, a doente foi acolhida quer pela equipa de urgência quer pelo médico, Oleg Borysyak, seu compatriota e médico deste centro hospitalar.

Hoje, Fernando Araújo revelou que a equipa que acompanha ViiKtoria inclui especialistas de Psicologia.

“Queremos trabalhar com eles [família] num clima de paz e serenidade para caminhar para uma efetiva recuperação. Fez lá uma viagem de ambulância que durou cinco horas, depois ainda tiveram a avaria do transporte para cá. A doente e a equipa vinham com desgaste emocional, mas chegar e ter familiares e até quem falasse a mesma língua fez a diferença e [a doente] passou uma noite muito tranquila na unidade de Medicina Intensiva onde está neste momento internada”, disse Fernando Araújo.

Questionado sobre porque foi escolhido o Hospital de São João para este acolhimento, uma vez que a viagem incluiu escala em Lisboa, o presidente do conselho de administração referiu que desconhece as razões, tendo respondido “sim” a uma solicitação da Médicos do Mundo, articulada com o Ministério da Saúde português.

Na semana passada o Hospital de São João avançou que teria disponíveis 138 camas de várias especialidades, incluindo Pediatria, para acolher doentes ucranianos, caso viesse a ser necessário.

A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 549 mortos e mais de 950 feridos entre a população civil e provocou a fuga de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.