Sorrateiro e muito subtil, o inverno começa a dar os primeiros sinais após os festejos do Pão por Deus, do Dia dos Fiéis Defuntos ou do Dia de Todos os Santos, a 1 de novembro, a anunciar o Dia de São Martinho, a 11, com o ar a cheirar a castanhas, os dióspiros a espapaçarem-se no chão, as romãs expondo-se em frestas suculentas ainda penduradas nos ramos. O sol mais tímido encurtando os dias.

No entanto, no meu jardim, as folhas da ameixeira demoram em cair, a macieira parece estar indecisa e quer voltar a florir. As estações andam um pouco confusas com as alterações climáticas, que são reais, palpáveis, visíveis e vieram para ficar aqui e no resto do planeta, para mal dos nossos pecados e são literalmente nossos os pecados ambientais causadores de tamanho desnorteamento planetário.

Mas não é disso que pretendo falar mas, sim, dos indícios que vou tendo na leitura que faço da paisagem que me rodeia nesta altura. Não consigo deixar de reparar nas urtigas, nas violetas e na morugem, que constituem a trindade vegetal que todos os anos anuncia a aproximação do inverno e que, em tisanas, infusões ou saladas, ajudam a prevenir e a combater as doenças típicas da estação.

O poder curativo das urtigas

Constato com regozijo que aqueles rebentos verdes que encontrei no bosque há umas semanas são, de facto, urtigas. Com alegria e gratidão, preparo-me para mais um inverno urticante. Começo pelas infusões quase diárias, assim em jeito de quem carrega as baterias. Depois, vêm as sopas, os sumos, os risotos, as omeletas, as açordas, o pão e por aí fora…

Viva o inverno que me é anunciado por este verde, viçoso, suculento e altamente nutritivo, pura injeção de clorofila, ferro, cálcio, zinco e vitaminas. Um excelente diurético, recomendado em caso de gota e reumático, ajudando a eliminar o ácido úrico. As urtigas são tónicas do aparelho digestivo, anti-inflamatórias e ainda aumentam a produção de glóbulos vermelhos no sangue, muito úteis em casos de anemias.

As raízes usam-se para tratar problemas de próstata e as suas picadas estimulam a circulação, aliviando assim problemas de frieiras muito comuns nesta estação. São ainda excelentes para nos levantar a moral e evitarem o winter blues, pois aumentam a produção de serotonina. São, portanto, as urtigas que me fazem a anunciação da estação como se de um anjo se tratasse.

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A versatilidade da morugem

Esta bela, delicada, saborosa e nutritiva erva daninha nunca me deixa indiferente, já que as suas minúsculas flores brancas e luminosas são anunciadoras de chuva quando se fecham. O seu nome é morugem ou Stellaria media. A palavra stellaria está relacionada com estrela, pois, nos dias curtos e acinzentados de inverno, em muitos locais, as pradarias, as hortas e os pomares cobrem-se destes pequenos pontos cintilantes.

Adoro consumir em sopas, saladas e sandes as flores das merujes, também conhecidas como erva-dos-canários nalgumas regiões do país. Tem um sabor muito refrescante e agradável, é rica em ferro, em cálcio, em fósforo e em vitamina C, tudo o que nos faz falta e aconchega a alma e o corpo nos dias em que ir para a horta ou para o jardim não é o que mais apetece.

Só se for para ir colher algumas destas ervas daninhas para o almoço ou para o jantar e voltar para junto da lareira acompanhada de um bom livro ou revista e, obviamente, de uma infusão bem quentinha de plantas locais e/ou de plantas de época ou ainda de alguma outra de terras distantes, com gengibre, canela e limão, para aquecer o coração nos dias mais frios.

Violetas contra a tosse

São os tapetes de violetas a cobrirem o solo com as suas folhas cordiformes [em forma de coração] e as flores muito discretas espreitando timidamente entre a densa folhagem. Umas são brancas e outras são roxas, de aroma delicado e doce. São bastante utilizadas, sobretudo em França, na região de Toulouse, na confeção de perfumes, de sabonetes, de elixires, de rebuçados e de outras guloseimas perfumadas.

Gosto de as ver, gosto de as ter, gosto de as fotografar e, de vez em quando, gosto de colher algumas para a confeção de xarope contra a tosse ou para uma infusão relaxante e terapêutica. Estas flores podem consumir-se frescas, desidratadas ou cristalizadas. Precisam de frio para florir. Nos invernos mais amenos, a sua floração é escassa aqui no meu quintal.

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Texto: Fernanda Botelho