Os FODMAP (Fermentable Oligo-, Di-, Mono-saccharides And Polyols) são um conjunto de hidratos de carbono de cadeia curta e álcoois de açúcares, nomeadamente oligossacarídeos (frutanos e galactanos), dissacarídeos (lactose), monossacarídeos (frutose) e polióis (manitol, sorbitol, entre outros), com um elevado potencial osmótico, sendo frequentemente mal absorvidos no intestino delgado e extensamente fermentáveis pela microbiota intestinal no cólon.

Como consequência, a elevada concentração de água e/ou gases a nível intestinal pode desencadear sintomatologia gastrointestinal específica e persistente como flatulência, alterações de motilidade, distensão e/ou dor abdominal, em indivíduos suscetíveis com hipersensibilidade visceral, evidenciando uma intolerância alimentar aos FODMAP.

Os FODMAP encontram-se naturalmente presentes em alimentos de origem vegetal como alguns frutos, hortícolas, cereais, lacticínios e mel, podendo também ser adicionados pela indústria alimentar aos alimentos processados como forma de os enriquecer nutricionalmente e/ou conferir maior durabilidade ou estabilidade.

Uma “Dieta Restrita em FODMAP” assume-se como uma metodologia para atenuar a ocorrência e recorrência dos sintomas gastrointestinais funcionais, conferindo aos indivíduos com intolerância aos FODMAP qualidade de vida perdida.

Esta abordagem baseia-se em 3 fases distintas:

  • Fase 1 (Entre 2 a 8 semanas) –  Restrição de todos os alimentos ricos em FODMAP e sua substituição por outras alternativas alimentares. O objetivo é determinar se a restrição na ingestão de FODMAP vai reduzir eficazmente a sintomatologia gastrointestinal funcional.
  • Fase 2 (Entre 5 a 8 semanas) – Reintrodução controlada e isolada dos diferentes subgrupos de FODMAP nos indivíduos que obtiveram uma melhoria eficaz dos sintomas na fase anterior. O objetivo é determinar qual/quais os subgrupos de FODMAP específicos desencadeadores da sintomatologia, para que se proceda apenas à restrição dos alimentos ricos nesses na fase seguinte da dieta. Assim, será possível aumentar a diversidade alimentar e minimizar o risco de desequilíbrios nutricionais a longo prazo.
  • Fase 3 (Continuidade) – Reintrodução de todos os alimentos contendo os subgrupos de FODMAP previamente identificados como bem tolerados num regime de manutenção e monitorização periódica da atenuação dos sintomas.

Atualmente, existe consenso para a aplicação de uma dieta restrita em FODMAP no controlo da síndrome do intestino irritável (SII), podendo ainda ser aplicada no alívio da sintomatologia gastrointestinal funcional associada às doenças inflamatórias intestinais (DII) em fase de remissão, na fibromialgia, endometriose e diarreia e/ou obstipação funcional.

Note-se que os FODMAP não são moléculas prejudiciais ao organismo humano, antes pelo contrário, existem subgrupos que atuam como prebióticos. Ou seja, estimulando uma proliferação seletiva de determinadas estirpes de microrganismos que exercem efeitos benéficos na saúde dos indivíduos, não devendo, por isso, ser restringidos na alimentação de pessoas que não apresentem uma intolerância justificada a estes.

Por fim, se sofre de sintomas gastrointestinais funcionais recorrentes e suspeita que possa ter uma intolerância aos FODMAP, antes de iniciar esta dieta deverá procurar a ajuda de um Nutricionista experiente na área e que o auxilie na implementação, avaliação e monitorização contínua das várias etapas desta abordagem, permitindo assim que alcançe um bom controlo dos seus sintomas e prevenindo simultaneamente implicações nutricionais adversas que possam surgir.

Se ficou com curiosidade e pretende saber mais sobre este e outros temas relacionados com as Ciências da Nutrição, saiba que o XIX Congresso de Nutrição e Alimentação decorre já nos próximos dias 9 e 10 de setembro, num formato totalmente digital, e contará com a presença de diversos oradores da área. 

O programa e as inscrições para o XIX Congresso de Nutrição e Alimentação podem ser consultados em www.cna.org.pt 

Um artigo de Fábio Cardoso, nutricionista  (3505N) no Centro Hospitalar Universitário de São João e Formador na Associação Portuguesa de Nutrição.