Atualmente, a alimentação é, sem dúvida, um dos fatores que mais preocupa a população, o que inclui a gama de produtos alimentares que “cuidam” de nós, quer no que toca à alimentação dita saudável, quer no que respeita aos alimentos inseridos em regimes de perda de peso. Assistimos nos lineares a uma crescente oferta por parte da indústria de uma grande variedade de produtos com uma imagem ou características de “mais saudável”.
Na realidade, muitos produtos, não obstante estarem em total cumprimento da lei, não apresentam características nutricionais que nos permitam dizer que possam ser categorizados como saudáveis.
A título de exemplo, olhemos para o quadro abaixo, onde avaliarmos as diferenças nutricionais entre a batata frita “normal” e as congéneres light.
Por 100 g
Batata frita “normal” | Batatas frita light | Diferença entre ambas | |||
Energia | 532 Kcal | 489 Kcal | - 43 Kcal | ||
Lípidos, dos quais saturados | 32,4 g 5,5 g | 24 g 11,9 g | -8,4 g +6,4 g | ||
Hidratos de carbono, dos quais açúcares | 51,7 g 0,6 g | 60 g 0,5 g | +8,3 g -0,1 g | ||
Proteína | 4,6 g | 4,4 g | -0,2 g | ||
Fibra | 6,2 g | 6,1 g | -0,1 g | ||
Sal | 1,38 g | 1,18 g | -0,2 g |
Ou seja, do ponto de vista legal, as batatas fritas light cumprem o requisito, nomeadamente a redução de 25% em relação a um dos ingredientes, neste caso específico, a gordura (lípidos).
Contudo, ao olharmos para os restantes nutrientes observamos que possuem ligeiramente mais hidratos de carbono. Avaliando o todo, a redução por 100 g entre uma e outra opção resulta em 43 kcal. O que perante a Dose Diária Recomendada (DDR) para a ingestão energética - cerca de 2000 kcal por dia – é um valor muito pouco expressivo, para mais quando falamos de batata frita.
Se observamos a diferença por porção (25 g) – tabela no final do artigo - a diferença é ainda menos expressiva, ou seja, 11 kcal.
Com este exemplo procuro demonstrar que ao tratarmos de batata frita, à partida, como sabemos, um alimento nada interessante do ponto de vista nutricional e a consumir com pouca frequência, é completamente indiferente optar pela versão normal ou light.
Acresce que no campo alimentar o fator psicológico tem um peso considerável. Dadas as poucas diferenças entre as duas versões de batata frita e os riscos para a saúde do seu consumo desregrado, o consumidor deve perceber que o rótulo light, não pode servir como desculpa para “comer à vontade”.
Não nos devemos esquecer que saudável é um termo subjetivo. Em extremo, poderíamos dizer que todos os alimentos são bons desde que consumidos de forma equilibrada. Há, contudo, que privilegiar os frescos e mais próximos da natureza, de origem vegetal em detrimento dos alimentos processados, de origem animal, a consumir em menor quantidade.
Diferença por dose unitária (25 g)
Batata frita “normal” | Batata frita light | Diferença entre ambas | |||
Energia | 133 Kcal | 122 Kcal | - 11 Kcal | ||
Lípidos, dos quais saturados | 8,1 g 1,4 g | 6 g 3 g | -2,1 g +1,6 g | ||
Hidratos de carbono, dos quais açúcares | 12,9 g 0,2 g | 15 g 0,1 g | +2,1 g -0,1 g | ||
Proteína | 1,1 g | 1,1 g | - | ||
Fibra | 1,6 g | 1,5 g | -0,1 g | ||
Sal | 0,35 g | 0,3 g | -0,05 g |
Cláudia Viegas é Professora Adjunta na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa. Os seus principais interesses de investigação estão relacionados com Alimentação em contexto de Hotelaria e Restauração na relação com a Saúde Pública, Promoção e Proteção da Saúde e Estilos de Vida.
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