Não está distante o tempo áureo das sementes de chia, entre outras, e subsequente (e rápida) queda na tabela dos poderosos no reino alimentar. Um facto recordado pela nutricionista Cláudia Viegas que nos responde a seis perguntas sobre os benefícios, ou não, da categoria alimentar a que chamamos superalimentos.
Bom senso nas escolhas, diversidade alimentar e nutricional, com preponderância dos produtos vegetais é o ponto de partida para esta conversa.
Cláudia Viegas, sejamos diretos sobre os superalimentos. Existem ou são uma ficção?
Não revejo a dieta humana nos superalimentos. A alimentação, ou o conjunto do que obtemos através dos alimentos que ingerimos, decorre de uma mesa equilibrada e da proporção correta que nos traz o aporte nutricional. Há um alimento, ou outro que é muito rico num determinado nutriente, mas isso não responde às nossas reais necessidades alimentares.
Em suma, é errado escolher um grupo de alimentos, elevando-os à categoria “super”, justificando que desta forma estamos a seguir uma dieta equilibrada. Acresce que isso nos pode levar a cometer erros alimentares. Isto porque temos a perceção de que, ao ingerirmos esse ou outro alimento `poderoso`, estaremos a colmatar a falta dos restantes. Em suma, não há superalimentos, há uma alimentação variada, equilibrada e de base vegetal.
A alimentação, ou o conjunto do que obtemos através dos alimentos que ingerimos, decorre de uma mesa equilibrada e da proporção correta que nos traz o aporte nutricional.
O leite, por exemplo, é um superalimento, ou não?
Nunca podemos dizer que há um alimento que suprime todas as necessidades nutricionais. Peguemos, então, no leite. Defendeu-se que era um alimento completo. É um alimento rico, sem dúvida, em proteínas, glícidos, cálcio, mas é muito pobre em ferro. Não há, de facto, nenhum alimento que supra todas as necessidades.
Há neste âmbito uma estratégia de mercado, de pressão de consumo face a alguns alimentos?
É uma estratégia para vender determinados produtos, muitas vezes encarecendo-os. O consumidor torna-se disponível para pagar mais. No inverso, podemos ter uma alimentação muito mais equilibrada e mesmo mais barata.
Repare, no que respeita à alimentação, há ansiedade por parte das pessoas. Estas procuram uma espécie de fórmula mágica para resolver os seus problemas, para atingir um objetivo. Na prática, querem uma resposta simples e rápida para resolver os problemas da alimentação quando, na realidade, devem comer nas proporções certas e de forma variada.
Estamos no âmbito das modas alimentares?
Tem havido uma vaga de modas em torno de superalimentos específicos. Em poucos anos, assistimos à ascensão e queda de alimentos elevados ao estatuto de “super”, como as sementes de chia que, face ao consumo muito elevado, se percebeu poderem ter efeitos prejudiciais. O mesmo podemos afirmar em relação à linhaça, às bagas de goji, ao abacate, só para citar mais um trio de exemplos.
A Cláudia referiu a diversidade alimentar. Como se consubstancia?
Há uma mensagem que é preciso passar, a alimentação tem de ser de base vegetal. Mais de 75% dos alimentos que ingerimos têm de ser vegetais. Não estou a dizer que temos de praticar uma dieta vegetariana. No Ocidente privilegiamos muito os alimentos de origem animal, quando devemos, sim, enfatizar os vegetais. Acresce que muitas vezes estamos a consumir superalimentos que, sequer, são produtos locais. Logo, estamos aqui a falar de sustentabilidade alimentar e de escolhas mais racionais.
Desvalorizamos muito a nossa gastronomia tradicional que é muito rica nos produtos de origem vegetal e, muitas vezes, pervertemos essa dieta e comprometemos a alimentação equilibrada.
Cláudia Viegas é Professora Adjunta na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa. Os seus principais interesses de investigação estão relacionados com Alimentação em contexto de Hotelaria e Restauração na relação com a Saúde Pública, Promoção e Proteção da Saúde e Estilos de Vida.
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