A obesidade é uma doença crónica e inflamatória, sendo caracterizada pelo excesso de gordura corporal. Esta é a principal doença do século XXI e o principal fator de risco para a diabetes do tipo 2.
Esta doença desenvolve-se a partir da interação entre fatores genéticos, ambientais e comportamentais, levando ao acumular progressivo de gordura e, consequentemente, ao desenvolvimento da obesidade. Isto ocorre, de uma forma geral, devido ao desequilíbrio entre a energia ingerida na forma de alimentos (calorias) e a energia gasta pelo indivíduo em atividades normais e exercício, com a consequente acumulação de energia na forma de gordura.
Dados da obesidade
Em Portugal, estima-se que 60% da população tenha obesidade ou viva com o risco de desenvolver a doença e outras associadas. A sua probabilidade é mais elevada no grupo etário dos adultos, entre os 45 e 65 anos, e junto daqueles que fazem parte da classe económica mais desfavorecida. O conjunto de fatores agregadores de uma má alimentação, sedentarismo, reduzido acesso a terapias de educação nutricional, falta de atividade física e de consciencialização sobre a obesidade faz com que este grupo se torne a principal “vítima” do desenvolvimento da doença.
Pelo mesmo motivo, alguns países pobres apresentam elevados índices de prevalência de obesidade. É possível afirmar que as tendências de transição nutricional, ocorridas neste século e em diferentes países do mundo, convergem para uma dieta mais rica em gorduras (particularmente as de origem animal), açúcares e alimentos refinados, sendo reduzidos os hidratos de carbono complexos e as fibras, também conhecida como a “dieta ocidental”.
Classes etárias
Contudo, no que diz respeito à obesidade infantil, os países Brasil, EUA, Itália e Portugal são os piores países do mundo em índice de aumento progressivo. Em Portugal, o excesso de peso é mais comum entre os homens e a obesidade é mais comum entre as mulheres, somando-se ao facto de a obesidade ser a doença do século. A sua principal consequência é a diabetes mellitus tipo 2 (DM2), que atinge cerca de 13 a 14% da população portuguesa. Esta consequência tendo vindo a aumentar progressivamente e prevê-se que, nos próximos 15 anos, venha a triplicar.
Há também evidências que sugerem uma forte influência da genética no desenvolvimento da obesidade. Contudo, os seus mecanismos ainda não estão completamente esclarecidos. Acredita-se que esses fatores possam estar relacionados com consumo e com o gasto energético. Além disso, tanto o controlo do apetite como o comportamento alimentar também sofrem uma influência genética. Há indícios de que a componente genética atua sobre o gasto energético, especialmente sobre a taxa metabólica basal (TMB), a qual é principalmente determinada pela quantidade de massa magra.
Deve considerar-se ainda que há diferenças individuais na suscetibilidade à obesidade. Ao comprar pessoas de peso normal, os homens com 20% acima do peso desejável têm mais 20% de hipótese de morrer devido a todas as causas: possuem duas vezes mais o risco de falecer por diabetes; têm mais 40% de probabilidade de desenvolverem disfunções na vesícula biliar e 25% a mais de desenvolverem doenças coronárias. Em homens com 40% acima do peso desejável, a mortalidade por todas as causas é 55% maior, apresentando 70% mais de hipótese de desenvolver doenças coronárias, sendo o risco de morte por diabetes quatro vezes maior do que entre pessoas de peso normal.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico e o tratamento da obesidade devem ser multidisciplinares, pois trata-se de uma doença multifatorial, crónica e associada a riscos de desenvolvimento de outras doenças. A importância de correções de erros alimentares, identificação e tratamento correto de doenças endocrinológicas, cardiológicas e psicológicas são o passo inicial ao tratamento.
A obesidade não é uma desordem singular, mas sim um grupo heterogéneo de condições com múltiplas causas que, em última análise, resultam no fenótipo de obesidade. Os princípios mendelianos e a influência do genótipo na etiologia desta desordem podem ser atenuados ou exacerbados por fatores não-genéticos, como o ambiente externo e as interações psicossociais, que atuam sobre os mediadores fisiológicos de gasto e consumo energético. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ocorrência da obesidade nos indivíduos reflete a interação entre fatores dietéticos e ambientais com uma predisposição genética.
Vários estudos têm provado a existência de neuro-hormonas intestinais relacionadas com a obesidade. Com isto, a cirurgia metabólica tem-se desenvolvido como sendo o único mecanismo na alteração da produção e ação destas hormonas intestinais, tais como a grelina, adiponectina, peptídeo YY, GLP 1, entre outras. As suas ações são, entre outras, inibição do apetite e estimulação da produção de glucagon. As cirurgias metabólicas por acesso de vídeo laparoscópico, bem como os procedimentos endoscópicos e a embolização e os seus avanços tecnológicos, têm levado a excelentes resultados, principalmente devido à maior segurança na execução com métodos de tecnologias modernas.
Um artigo do médico Rodrigo Oliveira, coordenador do departamento de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Hospital Cruz Vermelha.
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