Alguns especialistas pediram à Organização Mundial de Saúde para encorajar o seu uso, mas o tema não é consensual entre a comunidade científica.

Também chamado de e-cigarro, inclui-se num novo grupo de dispositivos, os ENDS, iniciais inglesas de sistema eletrónico de fornecimento de nicotina, que têm em comum o facto de possuírem um gerador de aerossol.

«Um sensor de fluxo, uma bateria e uma zona onde se coloca um cartucho ou onde existe um reservatório que se pode encher com uma solução que contém nicotina», explica a pneumologista Ana Figueiredo. O funcionamento é simples. Ao inalar, «a bateria aquece a solução (geralmente uma mistura de propilenoglicol e glicerina, nicotina, sabores e outros aditivos) que vai ser vaporizada e, assim, inalada», refere. Estes aditivos, cuja composição ainda é desconhecida, existem em vários sabores.

Quais os riscos

O e-cigarro pode ou não conter nicotina, sendo que os que contêm apresentam uma dose mais reduzida do que a do cigarro. Embora seja «reconhecido que o eletrónico tem menos substâncias nocivas», segundo o psicólogo Paulo Vitória «têm ocorrido acidentes resultantes do seu mau funcionamento, dos quais podem resultar queimaduras graves. Há também o risco de exposição a alguns dos produtos utilizados na sua produção».

O psicólogo reconhece outros aspetos negativos, como o facto de dissuadir os fumadores de deixarem de fumar, de incentivar não fumadores a iniciarem o consumo de nicotina e de contornar a legislação quanto à proibição de fumar em espaços públicos. Vários estudos internacionais indicam que o vapor do e-cigarro contamina o ambiente com nicotina e outras substâncias tóxicas.

Dependência

Ainda não existem estudos nesta área, mas é sabido que «a nicotina é altamente aditiva, e se estiver presente no cigarro eletrónico, é possível que possa provocar dependência», explica a pneumologista. O psicólogo acrescenta que «os comportamentos associados ao uso do cigarro eletrónico correspondem aos do uso do cigarro normal, satisfazendo, assim, o nível comportamental da dependência, importante para alguns fumadores».

Ajuda a deixar o vício do tabaco?

Os especialistas defendem que o e-cigarro não deve servir para deixar de fumar, recomendando antes o uso de fármacos que constam das recomendações internacionais, como substitutos de nicotina ou outros que se encontram regulamentados. Ao conter nicotina, o e-cigarro cria dependência, tal como o cigarro convencional. Mantém os comportamentos associados ao uso do cigarro.

Contorna a proibição de fumar em espaços públicos e nos locais de trabalho, contribuindo para a normalização do uso do cigarro, que é uma poderosa forma de promoção deste produto e dos comportamentos associados.

Texto: Catarina Caldeira Baguinho com Ana Figueiredo (médica pneumologista e coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia) e Paulo Vitória (psicólogo e professor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior)