A depressão consiste num distúrbio do estado de ânimo que faz com que os sentimentos de tristeza, perda, ira e/ou frustração interfiram com a vida quotidiana durante um período de tempo prolongado. Apesar de afetar muitas pessoas em todo o mundo, esta ainda suscita algumas dúvidas e ideias feitas. Medeiros Paiva, psiquiatra, elucida-nos sobre esta doença. Uma patologia que assenta em alterações morfológicas e bioquímicas do cérebro através das suas células, os neurónios, que se repercute, posteriormente, numa incapacidade funcional e laboral.

Quais os sintomas que podem indiciar estados depressivos que devemos ter em conta?

A depressão pode manifestar-se de variados modos, mas tem como núcleo principal a diminuição do humor, gerando tristeza. Também é, muitas vezes, marcada pela falta de interesse por coisas que antes davam prazer, incluindo o prazer sexual. Este fenómeno tem o nome de anedonia. A acompanhar estes sintomas, podem ainda estar presentes no quotidiano outros, nomeadamente sentimentos de culpa.

É também comum uma diminuição da atenção, da concentração e da memória. Outro dos possíveis sintomas são alterações motoras no sentido da inibição [lentificação] ou da inquietação [agitação]. A lista inclui ainda cansaço, uma fadiga que pode ser acompanhada por uma acentuada falta de forças [adinamia] e por alterações do apetite. Mais frequentemente, falamos de anorexia.

Raras vezes, a depressão é marcada por um aumento do apetite ou do peso. O emagrecimento é, neste caso, a consequência mais comum. Raras vezes falamos de obesidade. Outros sintomas muito comuns são as perturbações do sono, insónias ou, menos vezes, hipersónias. E, por fim, há ainda que destacar os pensamentos suicidas, que também são muito comuns e não devem ser menosprezados.

O que distingue a depressão da tristeza?

Uma não implica a outra. A tristeza é um estado de alma que acaba por ser comum a todos nós quando algo nos desagrada. Na depressão, pode estar presente a maior parte das vezes, na generalidade dos casos até está, mas é praticamente sempre acompanhada por mais sintomas, como os que foram descritos anteriormente. A diferença é que os estados de tristeza tendem a ser passageiros. A depressão não.

Quais são as principais formas de tratamento da depressão que existem?

Existe a psicofarmacológica, que recorre a fármacos antidepressivos. A psicoterapia, uma terapia psicológica que tenta ajudar o doente a enfrentar os seus problemas e a reforçar as suas capacidades intrínsecas, é outra das formas de tratamento, tal como a socioterapia, um tipo de terapia que pretende alterar comportamentos, quer do próprio doente relativamente aos outros quer dos seus familiares ou das pessoas significativas para ele.

Quais são as principais ideias erradas que persistem em relação a esta doença?

Desvalorizar a gravidade da doença, defendendo que se trata de algo que pode ser ultrapassado pela força de vontade. Esse é o principal erro que quem está de fora comete. Aconselhar alguém que sofra de depressão a alterar os seus comportamentos através da sua vontade é o mesmo que forçar alguém a andar com uma perna partida. Neste caso, o que está partido é o cérebro...