Ainda sem cura ou causa determinada, a doença de Alzheimer é responsável por mais de 50 por cento dos casos de demência em todo o mundo.
Pequenos esquecimentos, confusão, perdas de memória, alterações de personalidade transformam-se na perda das funções cognitivas, levando à dependência de terceiros para realizar as tarefas elementares.
O diagnóstico precoce é a melhor arma para travar a morte e a consequente atrofia das células cerebrais. A neurologista Belina Nunes deixa-lhe as respostas a que deve ter acesso para reagir ou ajudar alguém a lidar com a doença.
O que caracteriza a doença de Alzheimer?
Assiste-se a uma perda acentuada e acelerada de neurónios e das suas ligações, com marcada atrofia de áreas cerebrais importantes. É o tipo mais frequente de demência.
Trata-se de uma doença cerebral, crónica e progressiva, que atinge múltiplas funções superiores, sem alteração do estado de consciência e com impacto nas actividades de vida diárias.
Como se distingue a doença de Alzheimer das simples falhas de memória?
As falhas de memória, normais em estado de cansaço ou stress, deixam de o ser quando alguém começa a repetir a mesma pergunta várias vezes ao dia, a esquecer conversas mesmo quando recordado, a perder-se num local conhecido, a não recordar informações recentes (onde foi no dia anterior, por exemplo), a não conseguir lembrar os passos para executar uma tarefa comum, como cozinhar. Se se presenciar algumas destas situações, deve procurar-se apoio médico.
Quais são as causas?
Esta doença identifica-se no exame necrópsico do cérebro pela presença das placas senis e de feixes neurofibrilhares, embora não se saiba ainda os motivos pelos quais se acumulam e a partir de que limiar estas acumulações determinam o aparecimento dos sintomas e sinais da doença.
Existem factores de risco?
Existe o risco genético que se revela sob a forma esporádica (na qual não existe história familiar) e a doença de Alzheimer familiar, em que pelo menos um familiar de primeiro grau é atingido.
Outros factores de risco são o envelhecimento, ser do sexo feminino, ter baixa escolaridade, antecedentes de traumatismo craniano e factores de risco vascular (enfarte de miocárdio, hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia).
O estilo de vida é uma condicionante?
Os estudos realizados revelam maior risco da doença em relação ao analfabetismo e baixa escolaridade e na presença de factores de risco vascular.
A existência do genótipo ApoE é um factor associado a um maior risco, mas nada podemos fazer de momento para minorar o seu impacto, ao contrário dos anteriores.
Qual é o principal mito em torno desta doença?
Embora a sua prevalência aumente à medida que envelhecemos, de valores de cerca de cinco por cento aos 65 anos para mais de 50 por cento acima dos 85 anos, não é sinónimo de envelhecimento e tem de ser distinguida das normais queixas de memória relacionadas com o envelhecimento saudável.
Que testes são usados no seu diagnóstico?
O primeiro passo é sempre uma consulta médica, de preferência especializada, pois o diagnóstico diferencial das queixas de memória é o passo inicial mais importante.
A depressão é, muitas vezes, a causa de disfunção da memória e o seu tratamento e orientação posterior diferem significativamente do tratamento e investigação da demência.
Os exames imagiológicos, em particular a ressonância magnética, são auxiliares do diagnóstico, assim como os testes cognitivos.
Exames gerais (análises, exames cardíacos...) servem para esclarecer as causas da síndrome demencial. Nos casos de doença de Alzheimer familiar, poderá ser importante a realização de testes genéticos.
Que tratamentos existem?
Actualmente, não há tratamentos curativos. Os fármacos existentes atenuam o curso, mas não impedem a progressão da doença.
Quando se deve procurar um médico?
Quando o doente ou a família têm dúvidas se as queixas de memória são indiciadoras de um problema mais sério do que o normal envelhecimento.
O diagnóstico precoce da doença traz enormes vantagens para o doente e família, uma vez que os tratamentos são mais eficazes quando ainda existem células cerebrais suficientes sobre as quais os fármacos podem actuar.
Para além do tratamento precoce, os assuntos familiares, financeiros e profissionais poderão ser tratados com mais tempo.
Que avanços da medicina se podem esperar?
Está a ser desenvolvido um elevado número de fármacos (referência recente a cerca de 19 em fase II de ensaios), com mecanismos de acção e alvos terapêuticos diferentes.
A maioria destas substâncias encontra-se nas fases finais dos ensaios clínicos. Ainda é precoce termos uma noção dos seus benefícios, mas será de prever o aparecimento de avanços significativos na próxima década.
Texto: Fátima Lopes Cardoso
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