A apneia do sono é silenciosa e extremamente perigosa, milhares de Portugueses acordam de manhã e fazem-se à estrada depois de uma noite extremamente mal dormida e pouco restauradora. A sonolência diurna é um dos mais frequentes sintomas da apneia de sono com o consequente risco de aumento dos acidentes de viação. Outras consequências são a fadiga constante, falta de concentração no trabalho ou de estudo, a diminuição do desejo sexual, além de implicações de na saúde cardíaca, neurológica e/ou respiratória.
A apneia de sono pode ser classificada em vários níveis, dependendo do colapso da faringe. A roncopatia, vulgo ressonar, é um dos principais indicadores deste bloqueio parcial da via aérea superior. Nos Estado Unidos o ressonar é já apontada como a terceira causa de divórcio.
Como prevê que o diagnóstico e tratamento da Apneia do Sono vão ser feitos no futuro?
O desenvolvimento da medicina e das ciências da saúde em geral tem seguido um rumo de pesquisa científica e prática clínica com o foco na optimização da eficácia do diagnóstico e abordagem terapêutica. A Medicina do Futuro aposta na individualização total do diagnóstico e da terapêutica, esta abordagem tende para apresentar cada vez mais um carácter minimamente invasivo e mais cómodo para o doente.
A abordagem terapêutica da Sindrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) tem seguido esta evolução?
Tem seguido esta evolução, sem dúvida. Por exemplo, entre as várias “armas terapêuticas”, surgiu o dispositivo de avanço mandibular (DAM). Este tipo de dispositivos modificam a posição da mandibula, base da língua e/ou de outras estruturas de suporte das vias aéreas superiores e a sua utilização só faz sentido após uma meticulosa abordagem multidisciplinar prévia (por exemplo a articulação entre: Pneumologia, Otorrinolaringologia, Neurologia, Medicina dentária, Fisiatria e Fisioterapia).
Para que casos está indicado o Dispositivo de Avanço Mandibular?
O Dispositivo de Avanço Mandibular é executado pelo médico dentista com dedicação a Medicina Dentária de Sono, está indicado em Roncopatia (ressonar), SAOS ligeiras e moderadas na ausência de comorbilidades. Nas SAOS graves pode-se analisar a possibilidade de um dispositivo de avanço mandibular quando não há compliance com o CPAP - o tratamento de primeira linha para a SAOS, ou mesmo em conjunto como terapia combinada.
A inovação que introduzimos em termos de predictibilidade do dispositivo de avanço mandibular é utilizar a endoscopia de sono, designado por DISE ( Drug induced sleep endoscopy ) com registo dentário. O DISE é executado por um anestesista, otorrinolaringologista e médico dentista e consiste em colocar o paciente num sono induzido por fármacos e com o auxílio dum fibrolaringoescópio ( mais suave que uma endoscopia ) observa-se exatamente o local da obstrução da via aérea superior. Após essa observação é testada a melhor posição de avanço da mandíbula e regista-se a melhoria em tempo real da roncopatia e da apneia , garantindo assim que esta é uma opção viável de tratamento. Ou seja, com o DISE, como o fazemos neste momento, conseguimos com um grau de segurança muito elevado, prever se o dispositivo de avanço mandibular é eficaz na totalidade ou melhora de alguma forma devendo ser uma terapia combinada ou temporário.
A adaptação aos Dispositivo de Avanço Mandibular é fácil?
Estes dispositivos são cômodos, fáceis de transportar (o ideal para quem viaja bastante), apresenta uma boa adaptabilidade do paciente e extremamente eficazes (quando são corretamente prescritos), nunca esquecendo que as indicações e contra indicações são claras - devendo sempre consultar o seu médico do sono, pneumologista ou otorrinolaringologista, e realizando previamente um estudo do sono. Sempre que possível sugiro realizar um DISE para prever o sucesso e visualizar onde é a obstrução da via aérea superior.
As explicações são de André Mariz de Almeida, especialista em Medicina Dentária no Hospital CUF Infante Santo.
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