Moderação parece ser o grande objetivo a alcançar na dieta, assim como na atividade física. A palavra tem feito correr muita tinta nos últimos anos porque é difícil definir o seu significado nestas áreas e a comunidade científica continua em desacordo quanto aos limites do que se pode considerar saudável. Mas uma coisa podemos ter como certa. No meio é que está a virtude! No entanto, sabemos que facilmente o ser humano se deixa atrair por extremismos.

Mesmo que isso implique ter comportamentos lesivos para a própria saúde, como a anorexia nervosa, que consiste em restringir o consumo alimentar ao mínimo possível e fazer exercício físico para que o défice calórico resulte numa perda de peso extraordinária, destinada a alcançar uma imagem idealizada, ou, por oposição, a obesidade, associada a uma ingestão excessiva de alimentos nutricionalmente pobres e a hábitos de vida sedentários.

Contudo, talvez como reação a essa tendência, nas últimas décadas emergiram dois comportamentos obsessivamente preocupados com a saúde, a vigorexia e a ortorexia. Já ouviu falar deles? Conheça os distúrbios que tanto têm intrigado os especialistas. "Podem causar problemas na família, sobretudo no casal. Há quem chegue a separar-se porque o cônjuge não partilha do mesmo comportamento", alerta Teresa Branco, fisiologista da gestão do peso.

A dificuldade de autodomínio

Nas palavras de Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica especializada em perturbações do comportamento alimentar, a ortorexia caracteriza-se por uma "preocupação exagerada e permanente com o que se come, permitindo-se ingerir apenas alimentos considerados saudáveis e investigando ao pormenor o conteúdo nutricional do que se ingere". Isto traduz-se numa inflexibilidade e falta de liberdade que afetam as restantes esferas da vida da pessoa.

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"As estatísticas indicam que afeta mais as mulheres, que sentem uma forte pressão para controlar o peso por causa da imagem", refere Teresa Branco. Os homens com idades entre os 18 e os 35 anos são quem mais sofre do transtorno obsessivo-compulsivo conhecido por vigorexia. "Também designada por complexo de Adónis, esta perturbação apresenta características semelhantes à bulimia e à anorexia nervosa. É mercada pela preocupação com o corpo e/ou com a ditadura da balança, uma autoimagem distorcida, baixa autoestima, alterações de dieta, personalidade introvertida e tendência para a automedicação", diz a psicóloga.

A fisiologista da gestão do peso confirma que se trata de uma patologia que "coloca em causa a integridade física das pessoas", sublinha. Ambas as especialistas garantem que chegam a ser diagnosticados os dois distúrbios no mesmo indivíduo. De acordo com Filipa Jardim da Silva, une-os "uma autoimagem e um autoconceito frágeis". Na ótica da psicóloga clínica, essa vulnerabilidade tenta ganhar força "numa aparente procura por mais saúde", refere.

Mas Teresa Branco oferece uma explicação adicional. "Há um desejo de perpetuar a juventude. Cada vez mais, as pessoas querem ser jovens durante mais tempo", sublinha. Porquê? Filipa Jardim da Silva declara que as redes sociais promovem "uma ode ao corpo perfeito, fomentando-se a associação de uma determinada imagem física idealizada a uma vida dita perfeita". Por sua vez, a fisiologista na gestão do peso aponta ainda o dedo à imprensa.

"Valorizam o facto de, passadas duas semanas após ter sido mãe, uma mulher estar com um corpo fantástico, como se nada tivesse acontecido", descreve a especialista que, após a primeira gravidez de Catarina Furtado, numa altura em que ainda não existiam redes sociais, ajudou a apresentadora de televisão, atriz e ativista a recuperar a forma. "Quando isso sucede, é porque têm uma genética própria que o permite e não porque é o comum ou o desejável", lamenta.

Os (outros) transtornos que se desenvolvem

Tanto no caso da vigorexia como no da ortorexia, Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, adianta que podem desenvolver-se "transtornos de ansiedade e depressão, com alteração do humor, sono e apetite, isolamento social e alheamento das atividades sociais e laborais, devido à preocupação e tempo que esta obsessão exige". Ainda assim, a reabilitação é possível, mediante um tratamento que requer apoio especializado em diversas frentes, refere.

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"Para ambas as perturbações, a psicoterapia assume-se como fundamental com vista a potenciar a modificação de crenças e comportamentos, regulação emocional, melhoria da relação com o corpo e desenvolvimento de competências sociais", refere a psicóloga. Também Teresa Branco concorda com a recomendação, acrescentando que "é muito importante perceber o que leva as pessoas a terem estes comportamentos". Dado o impacto negativo que estes distúrbios podem ter nas diversas esferas da vida dos indivíduos que sofrem deles, o acompanhamento psicológico pode não ser suficiente na reconquista de um estilo de vida saudável.

Saudável e livre de obsessões. Neste sentido, Filipa Jardim da Silva defende que haja uma "intervenção pluridisciplinar, com profissionais de áreas complementares". Além do seu médico, que deverá tomar conhecimento da sua patologia, estes doentes devem procurar um nutricionista, que lhes desenhe "um plano alimentar equilibrado" e um profissional da área do desporto, "que apoie na avaliação e prescrição de um plano de treino ajustado", recomenda ainda.