Pode a perda dentária potenciar o aparecimento do Alzheimer?

O Alzheimer é uma das principais demências e que afeta fortemente a vida de quem sofre desta doença, assim como a de quem a acompanha de perto. E se, por um lado, não tem cura, por outro, a doença pode ser prevenida. Atividade física regular, prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares, da diabetes e da obesidade e evitar o tabagismo são algumas das medidas recomendadas. Mas, além disso, tambéé importante tratar da saúde oral.

Os académicos da University of Eastern Finland analisaram 47 estudos realizados em todo o mundo e concluíram que pessoas com má saúde oral têm mais 23% de probabilidades de desenvolver um declínio cognitivo. Além disso, o estudo publicado no Journal of the American Geriatrics Society também descobriu que a perda dentária aumenta significativamente o risco de demência e deterioração cognitiva, estabelecendo-se uma relação mais próxima entre este problema de saúde oral e o Alzheimer.

Porém, os estudos realizados ainda não permitem identificar precocemente que um indivíduo está em risco e quais as medidas mais eficazes para combater consequências como o aparecimento do Alzheimer.

Também um grupo de investigadores japoneses descobriu que as doenças periodontais e a perda dentária podem ter uma relação com a diminuição do tamanho do hipocampo, uma área do cérebro que desempenha um importante papel no armazenamento da memória e que, em pacientes com Alzheimer, se encontra frequentemente danificada.

Segundo o autor do estudo, Satoshi Yamaguchi, da Universidade de Tohoku, a perda dentária pode levar à redução da estimulação gerada pela mastigação, o que conduz à diminuição do tamanho do hipocampo.

No entanto, Satoshi Yamaguchi sublinha que a associação entre a perda dentária e a demência e o Alzheimer pode não ser assim tão direta, já que tanto a perda dentária como a doença de Alzheimer são comuns em idades avançadas, o que pode gerar conclusões precipitadas e associações que efectivamente não existem ou não têm qualquer significado clínico.

O estudo foi publicado na revista Neurology, mas, como analisou apenas participantes com mais de 55 anos numa amostra de apenas 172 indivíduos, o investigador afirma que é preciso confirmar a generalização dos resultados analisando um grupo maior e mais diversificado de indivíduos.

Sinais de alerta

Independentemente de se vir a confirmar uma relação direta entre a perda dentária e o Alzheimer, é facto que as doenças orais dão origem a vários problemas de saúde que vão muito além da cavidade oral. Portanto, a prevenção será sempre a melhor solução.

Mas, infelizmente, dispomos de dados que nos indicam que ainda estamos longe de conseguir ter uma população com uma boa saúde oral. De acordo com o Barómetro da Saúde Oral de 2022:

     Apenas 32,3% dos portugueses possuem dentição completa;

     28,5% dos portugueses têm falta de 6 ou mais dentes;

     48,1% dos portugueses com falta de 1 ou mais dentes não têm qualquer prótese a substituí-los;

     Apenas 67,4% dos portugueses visita o médico dentista pelo menos uma vez por ano.

Ora, se os estudos que têm sido feitos sobre a relação entre a perda dentária e o Alzheimer vierem a confirmar que a saúde oral, de facto, pode ajudar a promover a demência, atualmente, as probabilidades não são nada favoráveis para os portugueses. Mas, felizmente, há formas de prevenção ao alcance da generalidade da população.

As melhores soluções

Seja a pensar diretamente na saúde oral ou no impacto que esta pode ter na saúde geral, resolver a perda dentária trará sempre benefícios. As próteses dentárias, sejam fixas ou removíveis são uma forma prática de recuperar a componente estética, a autoestima, a capacidade de mastigação, o conforto e de evitar outros problemas de saúde.

Prótese fixa total

Através da colocação de implantes dentários, é possível repor os dentes em falta de forma fixa e duradoura. E se, em casos de perda isolada, a solução são os implantes unitários com coroas, em caso de perda dentária severa ou total, sobre os implantes colocam-se próteses fixas.

Esta solução é cada vez mais comum e os avanços tecnológicos na área da medicina dentária tornam este processo cada vez mais rápido e confortável para o paciente.

O resultado é uma dentição completa, saudável e com um aspeto tão natural que quem não conhecer o paciente antes do tratamento não conseguirá perceber que não se trata duma dentição de substituição.

Prótese removível

Em alternativa, a prótese removível também pode oferecer uma solução confortável, para quem se adapte a esta solução.

Apesar de não ter a mesma estabilidade que uma prótese fixa, de ser necessário retirá-la para higienizar e de não travar a retração da gengiva, há quem opte por esta opção, que também pode ser encarada como uma resposta temporária, até que se decida colocar uma prótese fixa sobre implantes dentários.

Desta forma, podemos concluir que, seja para evitar o aparecimento do Alzheimer, outro tipo de demência ou os mais diversos problemas de saúde oral e geral, resolver a perda dentária é algo que deve estar no topo das prioridades no que respeita os tratamentos de saúde.

Portanto, é fácil concluir que cuidar da saúde oral é cuidar da saúde geral.

Um artigo do médico dentista Hugo Madeira, CEO dClínica Hugo Madeira.