O cancro do pulmão é uma doença frequente, com mau prognóstico. É, atualmente, o tumor responsável pela maior taxa de mortalidade em todo o mundo, pois a sobrevivência aos 5 anos não ultrapassa os 15%.
Em Portugal, segundo estimativas Globocan de 2018, registaram-se cerca de 5.200 novos casos de cancro do pulmão, sendo o 4º tumor mais frequente, depois do cancro do colon, da mama e da próstata. Na maioria dos casos, os doentes apresentam doença disseminada para outros órgãos, não sendo por isso candidatos a tratamento curativo.
O seu diagnóstico precoce é um desafio, esperando-se a implementação de uma estratégia de rastreio eficaz baseada na realização de tomografia computorizada (TC) do tórax com baixa dose de radiação.
Até recentemente, a melhor opção terapêutica para os doentes com cancro de pulmão avançado consistia em quimioterapia, porém com pouco impacto na sobrevivência global.
Nas últimas décadas, foram identificadas alterações genéticas nos tumores responsáveis pelo desenvolvimento do cancro, que são tratáveis com fármacos específicos, com elevada eficácia, traduzindo-se em aumento do tempo sem manifestações da doença e da sobrevivência. Porém, estas alterações ocorrem numa pequena percentagem de doentes com cancro do pulmão.
Por outro lado, com o conhecimento mais detalhado da relação estabelecida entre o tumor e o sistema imunológico, o sistema que o organismo uso para combater agressões (por exemplo, as infecções) foram descobertos os checkpoints (pontos de controlo) imunológicos. Estes checkpoints são usados pelo tumor para se resguardar do sistema imunológico. O bloqueio destes pontos de controlo, por fármacos, destrava o sistema imune que se encontra bloqueado pelo tumor, de modo a que este reconheça o cancro como estranho e o destrua através dos mecanismos naturais de defesa. Um ponto fulcral é a via PD-1/PD-L1, crítica o sistema imunológico controlar o crescimento dos tumores. O seu bloqueio com anticorpos específicos, como os anticorpos que se ligam ao PD-1 ou ao PD-L1, permite ao sistema imunitário reconhecer o tumor e destrui-lo, interrompendo ou atrasando a progressão da doença. Esse tratamento revolucionou o tratamento de vários cancros e particularmente o do pulmão, a nova imunoterapia...
A imunoterapia redefiniu o tratamento do cancro do pulmão, sobretudo o do subgrupo mais frequente cancro de pulmão de células não pequenas (CPCNP) sem alterações moleculares tratáveis, em estado avançado, estando a ser atualmente estudada em fases menos avançadas da doença, em combinação com outros tratamentos e noutros tipos de tumores torácicos.
Com estes tratamentos, muitos doentes com cancro do pulmão apresentam remissão prolongada da doença, tempo em que a doença não se expressa, e taxas de sobrevivência mais elevadas. Infelizmente, apenas uma percentagem dos doentes responde ao tratamento, pelo que o efeito positivo da imunoterapia não é universal.
Este tipo de tratamento trouxe novos desafios. Podem surgir efeitos adversos mediados pelo sistema imunológico, capazes de atingir qualquer órgão e em qualquer altura, mesmo após a interrupção do tratamento. A utilização racional, com uma seleção adequada dos candidatos, é crucial para não se incorrer em prejuízo para o doente nem em custos desnecessários.
A colaboração de todos os profissionais de saúde envolvidos no tratamento no cancro do pulmão é fundamental, sendo o doente o elemento nuclear de todas as decisões.
Nesta 3ª edição Workshop "O doente no centro da imunoterapia", serão discutidas as novas estratégias de combinação que envolvem a imunoterapia e ocorrerão vários workshop multidisciplinares, com diferentes grupos profissionais, onde a partilha de experiência será o alicerce da discussão.
Um artigo da médica Gabriela Fernandes, Assistente Hospitalar Graduado de Pneumologia, no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, e Docente Convidada de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Comentários