Para compreender melhor o laço entre estes dois mundos é importante ter bem presente o que é a realidade virtual e o que é audiologia, comecemos pela última. Audiologia é o ramo da ciência que estuda e se especializa no diagnóstico, tratamento e reabilitação da audição e do equilíbrio.
A realidade virtual (RV) é um sistema que permite uma experiência simulada em tempo real e interativa com o mundo virtual. Através desta tecnologia é possível induzir efeitos visuais, sonoros e até mesmo sensações de toque e textura que permitem ao utilizador, num ambiente seguro e confortável, ter uma experiência única apenas com a utilização de uns óculos especiais, que vão projetar este mundo virtual tridimensionalmente enquanto monitorizam o movimento da nossa cabeça em tempo real.
Realidade virtual no apoio à Saúde
Com a grande evolução deste equipamento na última década, a RV já não é só usada para entretenimento e lazer, sendo cada vez mais utilizada como uma ferramenta terapêutica e aliada da saúde.
A RV pode beneficiar tanto estudantes e profissionais da saúde quanto pacientes, por exemplo, reduzir a ansiedade dos pacientes antes de procedimentos médicos, tornar sessões de fisioterapia e reabilitação mais dinâmicas e ensinar anatomia aos estudantes são algumas das aplicações mais citadas. Esta tecnologia também tem vindo a ser usada para tratar pacientes psiquiátricos, que podem encarar os seus medos no ambiente virtual e quebrar padrões, ou aqueles que sofrem de stress pós-traumático, especialmente os veteranos de guerra.
A RV começa a ser usada para avaliar a perda auditiva e seu grau de comprometimento especialmente em contexto pediátrico.
O Audiologista pode emergir uma criança num destes ambientes simulados (recriando por exemplo a sala de aula) e apresentar vários estímulos sonoros de diferentes intensidades, frequências e localizações, permitindo assim observar a criança e ver como esta responde em ambientes com mais ou menos ruído.
Além disso, inserir a criança neste tipo de ambiente (que lhe é mais familiar) pode ajudar na sua cooperação e numa melhor execução da avaliação auditiva.
Recentemente (2018) foi efetuada uma experiência em Sidney, na qual, uma pessoa foi posta virtualmente no papel de uma criança com perda auditiva numa sala de aula ou recreio, enquanto há sua volta iam decorrendo diálogos e atividades, para que desta forma, sensibilizassem as pessoas mais próximas dos alunos como pais e professores, da dificuldade que a perda auditiva, mesmo que não muito grave, possa causar nas crianças.
Reabilitação vestibular
Como referido anteriormente a Audiologia encarrega-se também da avaliação e estudo do equilíbrio através do estudo do sistema vestibular.
O sistema vestibular, que consiste num conjunto de estruturas localizadas no ouvido interno, tem um papel fundamental na sensação e perceção da posição e movimento do corpo, bem como dos movimentos dos olhos durante o movimento da cabeça. Desta forma, quando este sistema se encontra lesado podem se revelar os seguintes sintomas: vertigem, desequilíbrio, suores frios, vómitos e dor de cabeça - resultando na perda de equilíbrio e geral mau estar da pessoa afetada.
Os exercícios têm como objetivo melhorar a estabilidade do olhar, aumentar a estabilidade postural, melhorar a sensação de vertigem, através de diversos estímulos totalmente personalizados. O paciente terá que manter o equilíbrio enquanto está com os óculos de RV e com os pés assentes numa plataforma, “num jogo”, que simulará as dificuldades do quotidiano ou ambientes que provoquem desequilíbrio. Através deste treino o cérebro vai reaprender a enfrentar estes cenários e será possível melhorar o equilíbrio
O impacto da RV no nosso quotidiano
A realidade virtual apresenta um potencial enorme na área clínica e assim, como em muitas outras áreas, Audiologia não é exceção. Cada vez se olha mais para a RV como uma ferramenta eficaz no tratamento de problemas relacionados com a saúde, na educação, formação de profissionais de saúde com mais empatia nas dificuldades dos pacientes e na sensibilização para a literacia em saúde.
Um artigo de Bárbara Rocha, Edgar Rola, Miguel Dagoberto, estagiários na Licenciatura em Audiologia e David Tomé, professor adjunto de Audiologia na Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto (ESS-P.Porto).
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