Se já ouviu falar de mindfulness e de atenção plena, é capaz de conhecer o nome do professor de psicologia clínica da Universidade de Oxford, também diretor do seu centro de mindfulness. Mark Wiliams é um dos especialistas que mais sabe sobre o tema e o seu programa de oito semanas é reconhecido e recomendado pelo Serviço Nacional de Saúde Britânico, tendo reduzido para metade os casos de recorrência da depressão. O segredo, diz, «é ter consciência de cada momento, aproveitar cada segundo da vida e saborear a experiência de estarmos vivos, sem depender do futuro ou das recordações do passado». Entrevista exclusiva!
Qual é a forma mais simples para explicar o significado de minfdulness?
É ter consciência do que se passa, da forma como vivemos, do que se fazemos, não só relativamente ao que nos rodeia, mas também ao que está dentro de nós. O que acontece na generalidade dos casos é que andamos tão stressados que não temos tempo para parar e ouvir o nosso corpo e a nossa mente. O mindfulness ajuda-nos, através de técnicas de meditação, a prestar atenção a cada momento, sem auto-censura.
A meditação é muito importante na vida moderna?
Sim. Nas culturas ancestrais, meditação significava cultivar e temos de cultivar a nossa mente e isso não significa clarificá-la mas, sim, observar o presente e de estar acordado para todos os aspetos da vida. Ao meditarmos, passamos a estar conscientes dos nossos sentimentos e podemos reagir antes que aqueles se tornem motivo de tristeza e ansiedade.
Portanto, meditação nada tem a ver com religião?
Nada. Nas civilizações antigas as pessoas praticavam meditação para elas próprias e não por motivos religiosos e agora está-se a voltar a isso, porque os benefícios de estarmos acordados para a vida são universais. Aprendemos a ter calma, a saber esperar e a fazer boas escolhas.
No livro «Mindfulness, Atenção Plena» diz que o mindfulness pode ajudar a alcançar a paz e a satisfação. Como é que isso se consegue?
Na maioria das vezes, estamos em modo de piloto automático e desperdiçamos momentos da nossa vida por não estarmos despertos. O mindfulness ajuda-nos a saborear o momento, a prestar mais atenção aos nossos filhos, aos amigos e aos colegas. Temos de parar para saborear a comida ou, simplesmente, para sentir o vento quando bate na nossa cara.
É um pouco como voltar à infância e sentir o prazer das pequenas coisas?
Exato. Com o mindulfness as pessoas conseguem afastar os problemas, cultivando os outros aspetos da vida.
Esse é o segredo para ser feliz?
É um dos segredos. Não será suficiente para toda a gente, nem em todos os momentos, mas no meio de uma crise, meditar ajuda muito.
Veja na página seguinte: O mindfulness transforma momentos normais em grandes experiências?
O mindfulness transforma momentos normais em grandes experiências?
Sim, ajuda a experienciar a vida de forma preenchida. Não devemos procurar o sentido da vida mas, sim, saborear a experiência de estarmos vivos, sem depender do futuro ou das recordações do passado. Temos de viver com a vida que temos e não com a que sonhamos.
De forma resumida, como descreve o plano de oito semanas do seu livro?
O que o plano faz é encontrar através de diferentes maneiras o tempo perdido. Primeiro tentamos desligar o piloto automático. Segundo, queremos que as pessoas percebam que está tudo na nossa cabeça e que, muitas vezes, caímos na ansiedade, no stresse e na tristeza, porque queremos ser alguém que não somos. Depois, ensinamos a meditar e a retirar o que de bom isso dá a cada individuo.
Esperava que o livro alcançasse o sucesso que está a ter?
Nunca. Quando começamos, queríamos encontrar uma solução para evitar recaídas nos doentes com depressão, porque observamos que nos Estados Unidos da América estavam a usar, com sucesso, o mindfulness para tratar doentes com dor crónica. Decidimos usar o mesmo método para a depressão e o estudo que fizemos revelou que o mindfulness fazia com que as pessoas encontrassem a paz e voltassem a ser senhores da sua vida.
Quanto tempo é que se deve meditar por dia?
No nosso programa, aconselhamos a começar com oito a dez minutos, duas vezes, por dia. No final do programa, devemos meditar 30 a 40 minutos por dia.
Lembra-se da sua primeira tentativa de meditação?
Sim, tentei meditar por 30 minutos e estive sempre muito distraído. Antes de começar, pensava que ia ser fácil. Mas não foi nada fácil desligar o meu cérebro, porque não se trata apenas de desligar, mas direcioná-lo para onde queremos.
Veja na página seguinte: Uma solução para conseguir mais tempo disponível
Como é que arranja tempo para si?
Levanto-me cedo, antes de toda a gente. Assim tenho um tempo só para mim antes de começar o dia. Todos devemos perceber qual é o melhor momento para o fazer. Só temos de avisar as pessoas que nos rodeiam, desligar o telefone e o e-mail. Não pense que a vão odiar por isso, pois a qualidade da sua atenção será depois redobrada.
E o que faz quando está muito ocupado?
Faço alguns intervalos. Mesmo que esteja muito ocupado vou beber um café, uma água, sentir um pouco de vento na cara...
Parece simples...
Costumo dizer que o mindfulness é como ir ao ginásio. Parece fácil, mas depois é complicado. Lembrem-se que não estamos a limpar a mente, mas a perceber onde é que esta se move para acabar com os preconceitos e concentrarmo-nos numa determinada tarefa de cada vez.
Texto: Rita Caetano
Comentários