Sempre que alguém me diz «Estou completamente só», a pergunta que faço é «Está só ou sente-se só»? A solidão é um sentimento que resulta da nossa insegurança por podermos ser abandonados, não sermos amados e, tantas vezes, do medo de nos deixarmos amar. Este sentimento é importante e essencial para conseguirmos confrontar-nos connosco, para aprendermos a aceitar a nossa própria companhia, para aumentar a nossa noção de valor pessoal e para percebermos o que realmente nos faz felizes.
A solidão dá-nos tempo para curar as nossas feridas, para nos reconstruirmos com sentido e não apenas porque tem de ser. Participar em atividades de grupo (sem ser apenas com aquela pessoa com a qual vivemos) que nos permitam conviver com pessoas cujos interesses nos enriqueçam e nos ajudem a criar coisas novas a partir do vazio que sentimos, é uma das grandes bênçãos da solidão, nem sempre valorizada.
Saber estar só
Para combater a solidão é essencial focarmo-nos em tudo de bom que temos na nossa vida e expandir aquilo que temos de bom às pessoas que nos rodeiam. Não ficarmos presas ao passado, naquilo que já tivemos, que já fomos, que já demos, que nos fizeram ou que nos tiraram é outra estratégia indispensável. Tomar consciência de tudo o que realizámos e conseguimos é um bom exercício de reforço do nosso valor pessoal e ajuda a não sentir o vazio.
Listar as nossas conquistas e lê-las sempre que nos sentimos sós é um exercício de reforço positivo importante. Trabalhe no sentido de sentir-se confortável com quem é, ao invés de estar em permanência a tentar ser quem acha que deveria ser. Diminua a fasquia de perfecionismo.
Não tenha medo de expressar o que sente e o que precisa que o outro lhe dê. Por vezes, a nossa solidão resulta simplesmente do facto de não conseguirmos expressar o que sentimos e o que precisamos. Isto significa, claro está, que a nossa solidão diminui sempre que nos sentimos merecedores de tudo o que de bom a vida nos pode dar.
O lado bom da solidão
A grande vantagem da solidão é aumentar a nossa resiliência e a nossa capacidade de superação. Aprendemos a conhecer os nossos limites, as nossas fragilidades e diminuímos o nosso grau de dependência em relação ao outro. Estar sozinho pode ser frustrante e criar grande ansiedade no início, mas tem também um elevado poder autocurativo das nossas emoções e dos nossos sentimentos.
As fases de solidão são essenciais para o nosso autoconhecimento e sobretudo para aprendermos a conviver com o nosso lado lunar, percebendo que das fases mais escuras da vida resultam no geral as mais felizes. Permite-nos ainda perceber que podemos ser felizes sem que a nossa vida dependa em permanência da existência de um parceiro ou de um relacionamento. Este processo aumenta a nossa autoestima e a nossa consciência de valor pessoal.
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Como encontrar alguém
O essencial é não procurar como se isso fosse um objetivo em si mesmo, como fazemos para alcançar objetivos profissionais, que se colocam na agenda. Isolar-se, perder o hábito de sair e ficar dependente de convívio online são hábitos a evitar. Estão, no entanto, longe de ser os únicos a abolir.
Sentir necessidade de provar ao mundo que estamos acompanhadas, valorizando muito o julgamento dos outros, não expressar o que sentimos e como gostamos que nos tratem, com receio de sermos abandonadas, são outros erros a evitar. Focar-se demasiado no futuro e naquilo que pode vir a acontecer com as pessoas que estamos a conhecer traz para a procura de relacionamentos uma carga de stresse geralmente fatal.
De igual modo, procurar um relacionamento com base numa lista de características que elegemos como modelo de pessoa ideal é causador de níveis de frustração elevados. Penalizar-se pelo tempo que demora a encontrar a pessoa ideal ou pelas relações que têm falhado são também erros que não deve cometer.
O papel das redes sociais
A procura de relacionamentos pode beneficiar com o recurso a plataformas online. Conheço casais felizes que se conheceram nas redes sociais. O problema não é o conhecimento via rede social. É o desconhecimento. É usar as redes sociais como estratégia de vida. Como algo onde é mais fácil esconder as nossas fragilidades e os nossos medos.
Em geral, é mais fácil usar as redes sociais para falarmos sobre nós. Para nos mostrarmos sem nos mostrarmos. No entanto, como estratégia para combater a solidão, a internet, a médio prazo, traz-nos apenas mais solidão. Devemos usar a rede sobretudo para participar em grupos de interesse idênticos aos nossos ou para irmos a eventos que nos permitam conviver com pessoas criativas e inspiradoras.
O contacto one-to-one online significa, na maioria dos casos, entrar em contacto com pessoas que estão a procurar resolver os seus próprios problemas de solidão. Se não quer estar sozinha, seja destemida. Saia com pessoas reais que lhe garantam segurança e que preencham o seu interesse pessoal e intelectual.
Homens versus mulheres
É comum as mulheres sentirem mais o medo de ficar sozinhas, não só, porque têm mais facilidade em expressá-lo, mas também porque são mais afetadas pelo medo de perder o tempo ideal. Para casar, para serem mães, para se divorciarem, para voltarem a casar… Os homens não sentem tanto este tipo de preocupação. Vivem mais livremente as condicionantes da idade e do tempo.
Texto: Teresa Marta (coach para a coragem e CEO da Academia da Coragem)
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