
Após quase três décadas a dar voz aos microfones da rádio portuguesa, o que a levou a canalizar essa experiência para a criação de um curso centrado na preparação para entrevistas de emprego?
A criação deste curso vem na sequência da aposta que temos vindo a fazer, na Carla Rocha Comunicação, em cursos online – a par das formações presenciais que temos disponíveis. Todos os dias trabalhamos com líderes e equipas que, apesar do seu enorme valor, nem sempre conseguem transmitir clareza e confiança quando comunicam. Ora, se isto acontece com profissionais experientes, pode ser um desafio ainda maior para jovens que estão a sair das universidades. O objetivo com este curso é dar ferramentas e estratégias a estes jovens para que a forma como se expõem revele a sua essência e o seu potencial, num contexto que pode ser intimidante, como é o caso das primeiras entrevistas de emprego.
Num contexto de crescente competitividade no mercado de trabalho, que falhas ou lacunas comunicacionais identifica nos candidatos que procuram o primeiro emprego ou uma reintegração profissional?
Por vezes, temos tendência a centrar o nosso discurso no “eu” — o que eu aprendi, o que eu sei fazer, o que eu já fiz. Mas numa candidatura temos de mostrar como é que as nossas competências se traduzem em valor acrescentado para a empresa – como é que eu faço o fit com a função? É preciso criar essa ponte narrativa — de forma estruturada e relevante. Uma boa estratégia é: antes de escreverem a carta de motivação, olhem com atenção para o descritivo da vaga, identifiquem três competências que a empresa valoriza e provem que as têm com exemplos concretos. Se a empresa valoriza o espírito de equipa, podem referir por exemplo: “fui capitão da equipa de basquetebol”. Posicionem-se em relação à empresa. Mostrem que conhecem as suas necessidades e que têm algo real para oferecer.
Numa candidatura temos de mostrar como é que as nossas competências se traduzem em valor acrescentado para a empresa – como é que eu faço o fit com a função?
A comunicação eficaz é muitas vezes apontada como uma das soft skills mais valorizadas pelos recrutadores. De que forma o curso “Entrevistas que dão emprego” prepara os participantes para desenvolver essa competência de forma prática e consistente?
O objetivo do curso é que os jovens que estão à procura das primeiras experiências profissionais sejam capazes de comunicar de forma eficaz numa entrevista. As ferramentas que damos são orientadas para este contexto – para estruturarem as suas respostas com mais clareza, para colocarem perguntas no momento certo e para alinharem a sua comunicação verbal e não verbal. Pretendemos que se valorizem como candidatos e futuros profissionais. Com isso, pretendemos também que percebam o impacto de uma comunicação estruturada, intencional e autêntica – e que essa tomada de consciência seja o ponto de partida para que continuem a aplicar ferramentas de comunicação noutros contextos.
O curso aborda elementos como a linguagem verbal e não verbal. Quão determinante considera a componente não verbal numa entrevista de emprego, e quais são os erros mais comuns que observa nesta área?
Sinto que devemos ter mais atenção ao nosso olhar. Se queremos transmitir credibilidade, é essencial manter o contacto visual — sem desviar ou olhar para baixo enquanto falamos. Também devemos desconstruir a ideia de que, por ser um momento sério, temos de manter uma expressão rígida.
Um sorriso — genuíno e aberto — pode quebrar barreiras logo no primeiro contacto. Nós comunicamos antes de falar: a forma como entramos na sala, como estamos sentados, o tom, o volume e a dinâmica da voz influenciam a forma como somos percecionados. Se afirmamos que somos confiantes, mas falamos com voz trémula ou estamos encolhidos na cadeira, a nossa mensagem perde força. Neste curso, ajudamos os participantes a tomar consciência destes sinais e a usá-los a seu favor.
A presença de mentores e especialistas no seu curso adiciona um cunho corporativo à formação. Que contributos concretos estes especialistas trazem para quem está a tentar alinhar o seu perfil com as exigências atuais do mercado?
Estes especialistas em recrutamento e seleção trazem o olhar de quem conhece o processo por “dentro”. Falam-nos, por exemplo, sobre a consistência nas redes sociais, o que faz uma carta de motivação destacar-se entre tantas outras, a importância da autonomia, e como agir e reagir quando não se segue em frente num processo de recrutamento. Para quem faz o curso, é uma oportunidade para perceber exatamente o que os recrutadores mais valorizam, dito pelos próprios. É uma perspetiva “do terreno” que, aliada às estratégias e ferramentas de comunicação que oferecemos, permite uma preparação mais completa.
Em Portugal, muitos jovens enfrentam o desafio do primeiro emprego, enquanto outros profissionais lutam por reinserir-se após períodos de desemprego ou mudança de setor. De que forma o curso adapta as suas metodologias e exemplos a estas realidades distintas?
O curso foi desenhado a pensar mais em quem está à procura do primeiro emprego, ou já teve algumas experiências, mas ainda está no início de carreira. É um momento que pode gerar insegurança, pela perceção de “falta de experiência”. O que fazemos é ajudar os participantes a reconhecer o valor do seu percurso até aqui — através de experiências académicas, projetos pessoais ou atividades extracurriculares — e a comunicar essas vivências com clareza, confiança e relevância. Todo o conteúdo, desde as estratégias de preparação aos exemplos, foi pensado para responder a estes desafios. Claro que as ferramentas que damos de comunicação verbal e não verbal, escrita e imagem, são universais, mas para profissionais que estão, por exemplo, a mudar de setor, é necessário criar uma narrativa de transição que não é o nosso foco neste curso online.
A IA pode ajudar a filtrar currículos, automatizar algumas etapas do processo e até medir competências técnicas, mas o momento da entrevista continua a ser crucial.
Num momento em que a inteligência artificial começa a ter um papel crescente nos processos de recrutamento — desde a triagem de currículos até entrevistas automatizadas —, como pode um candidato humano destacar-se? Que papel a comunicação pessoal ainda desempenha?
A IA pode ajudar a filtrar currículos, automatizar algumas etapas do processo e até medir competências técnicas, mas o momento da entrevista continua a ser crucial. É aqui que um candidato tem a oportunidade de mostrar autenticidade, empatia e adaptabilidade, competências que a tecnologia não replica de igual forma – as chamadas soft skills, que hoje sabemos que são power skills. A forma como um candidato se apresenta numa entrevista, como responde e coloca perguntas e estabelece uma ligação com o entrevistador, faz toda a diferença.
Para os portugueses que estão a procurar emprego fora do país, as ferramentas fornecidas mantêm-se válidas em contextos internacionais ou há adaptações a ter em conta? O curso aborda essas especificidades culturais ou linguísticas?
As estratégias e técnicas de comunicação que apresentamos são basilares e universais, focando-se na estrutura, clareza e eficácia da mensagem — competências essenciais em qualquer contexto e que podem ser adaptadas a diferentes mercados. Mas sabemos que os processos de recrutamento e as expectativas dos recrutadores variam de país para país. O curso não aborda estas nuances multiculturais, pelo que sugerimos aos participantes que façam uma pesquisa complementar, garantindo assim o alinhamento com o estilo e as normas específicas da empresa ou do país a que se candidatam, mantendo sempre os princípios universais de comunicação que o curso promove.
Considerando a sua missão atual de capacitar pessoas para se apresentarem da melhor forma possível, que mensagem gostaria de deixar a quem está neste momento à procura de uma oportunidade e sente que não sabe por onde começar?
Deve ter bem presente o que quer, mas sobretudo o que não quer. Conhecer a sua história, estar seguro sobre o seu percurso, aspirações e motivações, e ser capaz de transmitir tudo isso numa conversa – sim, uma entrevista de emprego deve ser uma conversa sobre experiências, não apenas sobre competências técnicas. Tendo esta clarividência, evita desperdiçar o seu tempo e o tempo de outras pessoas.
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