A situação de sequidão extrema verificada em 2018 e em 2019 no continente europeu, com efeitos mais acentuados em países como a França, a Itália, a Polónia e a Alemanha, vai passar a ser uma realidade cada vez mais comum, alertam os especialistas. De acordo com um novo estudo, levado a cabo por um grupo de investigadores de um centro de pesquisa ambiental em Helmholtz, na Alemanha, divulgado pela revista científica Scientific Reports, o nível de secura dos solos tem vindo a aumentar.
Depois de analisarem registos que remontam a 1766, os investigadores estão apreensivos. "As sequidões dos últimos verões consecutivos, 2018 e 2019, não tiveram precedentes nos últimos 250 anos e o seu impacto combinado no crescimento das culturas é mais forte do que a secura ocorrida em 2003", alerta Rohini Kumar, um dos autores do estudo científico. O aquecimento global e o aumento das emissões de gazes com efeito de estufa são duas das causas apontadas pelos cientistas.
"As projeções mostram-nos também que as zonas agrícolas afetadas no centro do território europeu podem vir a duplicar", alerta o investigador, que teme que 40 milhões de hectares de culturas possam vir a ser atingidas. "Implementar medidas que reduzissem essas emissões poderia reduzir o risco de ocorrência de episódios de sequidão consecutivos na Europa", garante Rohini Kumar. "É urgente reconhecer a importância destes fenómenos persistentes e desenvolver um modelo integrado que sirva de exemplo [aos diferentes países] para reduzir esse risco", defende o cientista do Helmholtz-Zentrum für Umweltforschung UFZ.
Este estudo é conhecido no dia em que o jornal Público revela que a albufeira de Alqueva não tinha tão pouca água desde fevereiro de 2004, por causa da cultura intensiva que tem vindo a ser praticada nos terrenos circundantes. Desde 2014 que a barragem não atinge a sua capacidade máxima de armazenamento, registando-se inclusive uma tendência de diminuição do débito dos seus caudais. A situação tem vindo a acentuar-se nos últimos anos, aumentando o nível de sequidão dos solos na região.
Comentários