Eu estava deitada na cama, com a atenção no iPad, quando ela entrou. Percebi de imediato que alguma coisa não estava bem.
- O que tens?-
- Uma angústia... -
- Conta.- endireitei-me um pouco e dediquei toda a atenção a esta amiga de há tantos anos.
Narrou-me que tinha acabado de ver uma pessoa com quem deixou de se dar e que a expressão corporal dessa pessoa tinha sido a de: "Estou aqui, pronta para falar contigo se tu falares comigo..."
- E então?- quis eu saber.
- Não consegui. Não fui falar com ela.- respondeu-me.
- ...E agora sentes-te mal contigo mesma, é isso?-
Sou uma eterna apaixonada pelo Ser Humano. As pessoas, de todos os credos, cores, géneros, idades, raças (e por aí fora) atraem-me os pensamentos, ativam-me a curiosidade e propulsionam-me os sentimentos. A necessidade de escrever transforma-se quase em compulsão quando entro no campo da infinitude de nuances da humanidade. E o que mais me atrai é a capacidade que o Homem tem de me comover e emocionar com milhares de intrigantes manifestações da sua complexa composição interior.
- Sim, não fiquei bem comigo... Estou com uma angústia enorme.- confessou-me.
O meu sorriso condescendente e feliz confundiu-a. Apesar de mais nova, fui tão maternal e apaziguadora quanto sempre consigo ser quando as situações assim exigem.
- Mas tu estás a rir-te de quê? -
- Oh querida... Não percebes? A tua angústia é uma coisa maravilhosa: é a garantia de que estás pronta e que na próxima oportunidade serás capaz de falar com essa pessoa!-
- Sim. Vou falar, podes estar certa!-
Sou apaixonada pelo fabuloso Ser Humano. Serei sempre. Não pelas pessoas irrepreensíveis e imaculadamente corretas, mas por todas as que deixam fermentar em si as angústias que lhes permitem perdoar e evoluir. Não me sinto atraída por quem não tem dúvidas e cumpre todas as regras, mas não sei resistir a quem é espontâneo, impulsivo e vive a constante guerra interior de tentar ser melhor.
Talvez a angústia da minha amiga se tenha esbatido. Mas querem saber a verdade? Espero que não. Espero que se tenha ativado ao ponto de procurar ela mesma a tal pessoa para tomarem um café e darem o mais carinhoso abraço.
Ana Amorim Dias
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