![Dos bosques de Seattle à revolução tecnológica: a infância que moldou Bill Gates](/assets/img/blank.png)
“Estávamos nos anos 70 do século XX, e a parentalidade era mais relaxada do que é hoje. As crianças e os adolescentes tinham mais liberdade e, quando entrei na adolescência, os meus pais já sabiam que eu era diferente de muitos dos outros rapazes da minha idade e tiveram de aceitar que necessitava de alguma independência para estar no mundo”. Com estas palavras Bill Gates (William Henry "Bill" Gates III) remonta no tempo, situa-nos na sua juventude, embrenha-nos nos bosques em torno da cidade de Seattle, nos Estados Unidos, recorda os amigos Mike, Rocky, Reilly e Danny e as incursões na natureza que duravam, segundo o próprio, “até sete dias”. Ali, nas profundezas das montanhas, o jovem Gates começou a sentir o desejo de descobrir o seu caminho: "Não tinha a certeza da direção a seguir, mas tinha de ser interessante e consequente”, escreve o cofundador da Microsoft no prólogo do livro que chegou este mês de fevereiro aos escaparates nacionais.
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Um importante jogo de cartas
Código Fonte – O Meu Começo (edição Ideias de Ler), mais do que um registo cronológico da génese da ascensão de Gates ao Olimpo do setor tecnológico, apresenta-se como uma incursão intimista à mente de um homem que redefiniu a relação da humanidade com as tecnologias. A escrita de Gates, nascido numa família da classe média, assume contornos de enlevo quando recorda a avó, carinhosa, que lhe despertou a paixão pelo raciocínio lógico através de um jogo de cartas: “Com o passar do tempo, surgiu uma grande empresa, assim como programas de software com milhões de linhas de código no cerne de milhares de milhões de computadores em todo o mundo (…) Mas ainda antes de tudo isto houve um baralho de cartas e um objetivo: vencer a minha avó”, enfatiza Gates no seu novo livro e acrescenta: “Jogávamos e jogávamos, e eu perdia e perdia. Mas ia observando e melhorando. A Gami [avó] encorajava-me gentilmente: ‘Sê inteligente, Terno [assim chamava a avó a Gates]´, dizia ela, enquanto eu ponderava a jogada seguinte. A ideia implícita era a de que, se usasse o cérebro e me mantivesse focado, descobriria a carta ideal para jogar (…) E, um dia, ganhei”, detalha Gates no livro.
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O autor também dedilha memórias sobre os pais, ambiciosos (o pai era advogado, a mãe professora) e esforçados: “O meu pai era um gigante meigo, tinha quase dois metros de altura e uma delicadeza calma (…) Tinha um modo direto e objetivo de lidar com as pessoas (…) Era educado, mas não se abstinha de pedir o que desejava (…) A minha mãe media um metro e setenta (…) registava meticulosamente a sua vida”, escreve Gates no capítulo primeiro do livro, obra onde também rememora as primeiras verdadeiras amizades ou a morte súbita do seu melhor amigo.
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Nas mais de 350 páginas do presente título, Gates entrega-se a uma narrativa que abre com uma palavras que recuam a um tempo primeiro, o do seu nascimento: “Nasci no dia 28 de outubro de 1955, fui o segundo de três filhos (…) Quando eu era bebé, chamavam-me “Menino Feliz”, porque parecia estar sempre a sorrir (…) Outro dos meus primeiros traços notáveis era uma espécie de excesso de energia”, escreve Gates no primeiro capítulo do seu livro, sem ocultar as penas dos seus progenitores: “A luta dos meus pais com um filho hiperativo, bastante inteligente, turbulento e frequentemente do contra gastou-lhes muita energia e marcou de modo indelével a família”.
Com apenas 13 anos, Gates já criava pequenos programas de computador e revelava fascínio pelas disciplinas de matemática e lógica.
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O início de uma nova indústria
Na adolescência de Gates e nos desafios impostos pelas caminhadas nas brumosas florestas do noroeste dos Estados Unidos, retiramos um ambiente cúmplice ao desenvolvimento dos talentos futuros do protagonista desta história contada na primeira pessoa: “Lembro-me desta expedição por me ter sentido tão gelado e desgraçado naquele dia. Mas também me lembro por causa do que fiz. Refugiei-me nos meus pensamentos. Imaginei código informático”.
Ao leitor, Bill Gates oferece amplitude de detalhes, como o episódio em que, em plena década de 1970, teve o seu primeiro contacto com a programação na Lakeside School, em Seattle. Ali, viria a desenvolver projetos rudimentares que prenunciavam a revolução que estava por vir.
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O seu primeiro grande projeto foi um sistema para otimizar horários escolares, desenvolvido ainda na adolescência. Um laivo daquilo que seria o seu trabalho futuro: encontrar soluções eficientes para problemas complexos. Aos 16 anos, desenvolvia software básico para máquinas de jogos eletrónicos. Aos 17 anos, a par do seu amigo Paul Allen, criou um software para leitura de fitas magnéticas, com informações de tráfego de veículos. Com este produto, a dupla de jovens génios fundou a empresa Traf-o-Data.
A obra não nasce órfã de reflexões sobre a fase universitária em Harvard, um período de descoberta e impaciência, onde Gates percebia que o ensino formal não acompanhava o ritmo das suas ambições. O abandono do curso para fundar a Microsoft (no início Micro-Soft), em 1975, juntamente com Paul Allen, é relatado não como um ato impulsivo, mas como uma decisão calculada, baseada na convicção de que o software seria a chave para a democratização da informática.
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Um virar de página no percurso do jovem Bill Gates que recebeu um acolhimento diferente por parte dos progenitores: “Fonte constante de apoio e conselhos, o meu pai percebeu rapidamente que a Microsoft se estava a tornar num negócio a sério. A compreensão por parte da minha mãe surgiu de forma mais gradual. Durante muito tempo, manteve a crença de que as coisas acabariam por ficar mais calmas e que eu conseguiria o meu diploma de Harvard”, recorda o empresário.
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Ao longo das páginas da presente obra acompanhamos o percurso do jovem nerd obcecado por software, num período anterior à posição de CEO implacável, mas também a de um jovem homem que enfrenta dilemas morais e rememora alguns dos seus momentos fundadores: “Quando eu estava no segundo ano da universidade e não sabia que rumo dar à minha vida, o Paul, um dos meus amigos de Lakeside, entrou de rompante no meu quarto com a notícia do lançamento de um computador inovador. Eu sabia que poderíamos escrever uma linguagem BASIC para ele, pelo que tínhamos vantagem. A primeira coisa que fiz foi pensar naquele dia miserável no desfiladeiro de Low Divide e retirar da memória o código que eu escrevera. Depois, introduzi-o num computador, lançando a primeira semente daquilo que se tornaria numa das maiores empresas de informática do mundo e o princípio de uma nova indústria".
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