Cerca de 7% dos portugueses admite que não vê qualquer problema em monitorizar o seu parceiro sem o seu conhecimento. Esta é uma das principais conclusões do estudo “O Assédio Digital nas Relações” da Kaspersky.
Para assinalar o segundo aniversário da Coligação Contra o Stalkerware, cofundada pela Kaspersky, a empresa de cibersegurança encomendou um estudo global com mais de 21.000 participantes em 21 países – incluindo Portugal - sobre o seu comportamento face à privacidade e à perseguição digital em relações íntimas.
O stalkerware é uma ferramenta que permite a um agressor monitorizar digitalmente a vida privada de outra pessoa através de um dispositivo móvel, sem o consentimento da vítima.
Embora a maioria dos inquiridos portugueses (81%) não acredite que seja aceitável monitorizar o seu parceiro sem consentimento, 11% não vê qualquer problema, e considera-o aceitável em algumas circunstâncias.
Entre os que pensam que certas razões justificam uma vigilância secreta, quase dois terços (64%) fá-lo-iam se acreditassem que o seu parceiro estava a ser infiel; se tal estivesse relacionado com a sua segurança (56%); ou se acreditassem que estavam envolvidos em atividades criminosas (48%).
Tendo em conta as diferenças geográficas, é percetível que os níveis mais altos de concordância no que se refere à monitorização em geral, venham da região da Ásia-Pacífico (24%), enquanto no continente Europeu (10%) e Américas (8%) esta aceitação é menor.
O estudo da Kaspersky concluiu ainda que, a 6% dos inquiridos a nível nacional, já foi pedida a instalação de uma aplicação de monitorização por parte do seu parceiro. Lamentavelmente, 15% destas pessoas já experienciaram alguma forma de violência ou abuso por parte do seu parceiro.
Desconhecimento sobre stalkerware e respetivas capacidades
As investigações sugerem que a monitorização online pode ser outra forma de exercer um controlo coercivo nas relações íntimas.
Dado que o stalkerware é um software comercialmente disponível que se esconde num dispositivo e fornece acesso a uma série de dados pessoais, como por exemplo a localização do dispositivo, histórico, mensagens de texto ou conversas nas redes sociais, não surpreende que possa servir como ferramenta em relações abusivas.
A investigação de Kaspersky também destaca a ignorância generalizada entre a população sobre o que é e o que implica o stalkerware.
Em Portugal, mais de metade dos inquiridos (55%) não sabem o que é um stalkerware, também conhecido como spouseware, e que se refere ao tipo de spyware que pode ser instalado no telemóvel de um parceiro e utilizado para monitorizar os seus movimentos.
Aqueles que são mais conhecedores da tecnologia, estão conscientes de que este tipo de software pode monitorizar a atividade da Internet (64%), gravar a localização (64%) e fazer gravações de vídeo e áudio. Mas menos de metade dos portugueses estão conscientes de que também podem aceder às palavras-passe (31%), alertar o agressor se uma vítima tentar desinstalar o stalkerware (27%) ou enviar uma notificação quando o utilizador chega a casa (30%).
Portugal é o 12º país da União Europeia com mais utilizadores afetados por stalkerware
Na sequência dos critérios de deteção da Coligação contra o Stalkerware, a Kaspersky analisou os dados e revelou quantos dos seus utilizadores foram afetados por stalkerware nos primeiros 10 meses do ano: de janeiro a outubro de 2021, quase 28.000 utilizadores foram afetados por esta ameaça a nível mundial.
Durante o mesmo período, registaram-se mais de 3.100 casos na União Europeia e mais de 2.300 utilizadores na América do Norte.
De acordo com números da Kaspersky, a Rússia, o Brasil e os EUA continuam a ser os três países líderes no ranking dos mais afetados a nível mundial. Na Europa, o panorama não mudou: Alemanha, Itália e Reino Unido são os três países mais afetados, respetivamente.
No caso de Portugal, o país situa-se em 12º lugar no ranking da UE e em 57º a nível internacional, tendo sido contabilizados 62 utilizadores afetados por stalkerware entre janeiro e outubro deste ano.
Entre outras das principais conclusões deste estudo relativamente a Portugal, destaque para:
- Quase 2 em cada 10 pessoas já foi vítima de stalkerware: 17% dos inquiridos afirma ter sido vítima de perseguição através de novas tecnologias, normalmente através de dispositivos móveis e monitorização. Cerca de 15% suspeitam que o seu parceiro os espia.
- 39% dos portugueses que participaram neste estudo afirmam estarem preocupados que o seu parceiro viole a sua privacidade digital. Entre as informações digitais a que os parceiros podem aceder e que mais preocupam os inquiridos estão as mensagens (47%), as redes sociais (45%) e os emails (39%).
- Os portugueses apresentam maior reticência em partilhar com os seus parceiros a sua palavras-passe (36%); geolocalização (26%); histórico (22%); mensagens (21%); e informações de pagamentos (18%).
- 83% admite que confrontaria o seu parceiro caso descobrissem que estavam a ser seguidos.
Para os utilizadores que suspeitem que possam ser afetados ou que estejam a ser atingidos por stalkerware, a Kaspersky recomenda:
Não se apressar a remover o stalkerware se este for encontrado no dispositivo, pois o agressor poderá reparar. É muito importante considerar que o agressor pode constituir um potencial risco de segurança. Em alguns casos, pode até agravar os seus comportamentos abusivos como resposta à deteção.
Contactar as autoridades locais e organizações que apoiam as vítimas de violência doméstica para obter ajuda e planear a sua segurança. Pode encontrar uma lista de organizações em vários países em stopstalkerware.org/pt/.
Assistir ao vídeo “Coalition Against Stalkerware” e ficar a saber como se proteger. Está disponível em inglês, alemão, espanhol, francês, italiano e português. Há também uma página dedicada às vítimas e sobreviventes sobre a deteção, remoção e prevenção de stalkerware.
Utilizar uma proteção comprovada de cibersegurança, como o Kaspersky Internet Security for Android, para realizar uma verificação do dispositivo e descobrir se está a ser afetado por stalkerware.
Neste caso, não apressar a remoção do mesmo, visto o agressor poderá reparar. É muito importante ter em conta que o atacante pode representar um risco potencial para a sua segurança
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