Imortal
Agarrei-lhe no casaco e puxei-o para trás.
- Mas tu és doido? A atravessares a estrada assim ainda te matas!-
- Eu sou imortal!-
O ruído dos carros, naquela movimentada rua de Paris, fez-me duvidar do que ouvi.
- O que é que disseste?-
- Eu sou imortal!-
Rompi em gargalhadas.
- E sabes que mais? A tua imortalidade vai-me chegar pelo correio durante a semana que vem!-
Chegou ontem. Eu andava com a normal excitação que antecede sempre a chegada material de um novo livro. Quem escreve sabe do que estou a falar. Há uma espécie de ganância incomparável. Nem quando sabemos estar a desembrulhar um anel de diamantes a sensação é tão boa e sim, posso comparar. Umas folhas de papel feitas livro, se escrito por nós, ganham um valor superior a qualquer outro objeto; encerram em si um prazer maior do que qualquer outra coisa nos pode trazer.
Dizem que os "diamonds are forever". Talvez.
Disse ao Eric que imortalidade dele me chegaria pelo correio. Talvez.
Digo-vos que a imortalidade é ganha por quem sabe deixar a sua marca. Tenho a certeza. É o que sinto de cada vez que um novo livro me chega na volta do correio.
Ana Amorim Dias
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