“Mãe, pai, deixam-me só acabar este vídeo?” A frase é comum em muitos lares portugueses, onde telemóveis e tablets se tornaram companhia diária das crianças e jovens. Mas o que parece inofensivo pode trazer consequências sérias.

As recomendações da Organização Mundial da Saúde são claras: até aos 2 anos não deve haver tempo de ecrã, exceto em videochamadas; dos 2 aos 4 anos, o limite máximo é de uma hora por dia, sendo a máxima “quanto menos, melhor”; para crianças mais velhas, menos de duas horas diárias de tempo recreativo em ecrãs.

A realidade portuguesa mostra um desfasamento entre as recomendações e os hábitos das crianças, com mais de metade dos alunos a partir do 2.º ciclo a passarem quatro ou mais horas por dia em frente a um ecrã durante a semana. Ao fim de semana essa percentagem sobe para 63,3%, com muitos a ultrapassarem as seis horas diárias, segundo o Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar, divulgado em 2024.

Já em 2020, um estudo da Universidade de Coimbra pré-pandemia, que analisou 8.430 crianças entre os 3 e os 10 anos, nas cidades do Porto, Coimbra e Lisboa, entre 2016 e 2017, concluiu que a maioria excedia os limites recomendados pela OMS. Entre os 3 e 5 anos, 73,1% passavam mais de 60 minutos diários em ecrãs durante a semana, subindo para 93,7% ao fim de semana.

Nas crianças dos 6 aos 10 anos, 33% passavam mais de duas horas diárias em ecrãs durante a semana, e 88% ultrapassam este valor ao fim de semana. O estudo mostrava ainda que o tempo de exposição aumentava com a idade associando o excesso de tempo em frente aos ecrãs a atrasos no desenvolvimento da linguagem, comportamentos mais agressivos, risco de obesidade, depressão e ansiedade, além de limitar oportunidades de interação social com família e amigos.

Com o intuito de chamar a atenção para este tema, a Castellana Properties lança a “Zona Zero Ecrãs” sob o lema “Desliga para ligar”, que de setembro a novembro vai percorrer os centros comerciais que gere em Portugal e Espanha. A empresa pretende transformar estes espaços em locais de sensibilização, oferecendo alternativas ao tempo passado em frente aos ecrãs.

“Os centros comerciais não são apenas espaços de compras, mas sim lugares vivos, de encontro social, cultural e comunitário. Para nós, estes espaços devem ter um papel ativo na sociedade, promovendo iniciativas que tenham um impacto positivo na vida das pessoas”, explica Cristina Macarrón, Chief Marketing & Communication Officer, ao SAPO Lifestyle.

“Na sociedade atual, o tempo excessivo de exposição aos ecrãs, a que muitas crianças estão sujeitas, é uma preocupação crescente. Sendo estes espaços frequentados por milhares de famílias, faz todo o sentido que sirvam de palco para impulsionar a campanha, oferecendo experiências que reforcem os laços familiares”, acrescenta.

A campanha terá lugar durante duas semanas em cada centro comercial e, em Portugal, passará pelo 8ª Avenida (São João da Madeira), LoureShopping, Rio Sul (Seixal) e Fórum Madeira. As famílias vão encontrar atividades gratuitas, incluindo jogos tradicionais e atividades ao ar livre, workshops de yoga em família, desafios “Zona Zero Ecrãs”, em que os telemóveis são guardados em cacifos e os minutos sem dispositivos dão direito a prémios e descontos, palestras em escolas conduzidas por pediatras, psicólogos e professores, debates abertos ao público com especialistas em saúde infantil, educação e psicologia, e podcasts em direto gravados no primeiro sábado da campanha em cada centro.

“O nosso objetivo é oferecer experiências que ajudem as famílias, de forma descontraída e educativa, a gerir melhor a utilização dos dispositivos digitais”, afirma. “Mais do que sensibilizar, queremos disponibilizar alternativas e ferramentas concretas: jogos tradicionais, sessões de yoga em família, debates com especialistas e até desafios que premeiam o tempo passado sem ecrãs. Assim, as famílias não ficam apenas a ouvir falar do problema, mas participam ativamente, experimentam novas formas de se relacionar e criam momentos de qualidade em conjunto”, sublinha.

Entre os especialistas que participam em Portugal está o pediatra Hugo Rodrigues, conhecido pela sua divulgação, nas redes sociais, de temas de saúde infantil. Para a empresa, a ligação a especialistas “era fundamental para que esta campanha tivesse credibilidade e impacto real. O tema da exposição excessiva aos ecrãs é complexo e requer conhecimento científico”, acrescenta a porta-voz.

“Zona Zero Ecrãs”. Em alguns centros comerciais vai ser possível desligar as crianças dos dispositivos eletrónicos para reforçar laços em família
“Zona Zero Ecrãs”. Em alguns centros comerciais vai ser possível desligar as crianças dos dispositivos eletrónicos para reforçar laços em família créditos: Divulgação

Ao contar com pediatras, psicólogos e especialistas em educação positiva, a empresa garante que “as famílias tenham acesso a informação de qualidade, baseada em evidência científica, e que possam esclarecer diretamente as suas dúvidas junto dos profissionais”.

Cristina Macarrón sublinha ainda que a campanha não se limita a atividades dentro do centro comercial, mas procura criar uma ligação com a comunidade educativa. Cada centro comercial terá atividades ajustadas à comunidade onde se insere, com parcerias entre escolas, pediatras, psicólogos e professores. “Estamos ainda a avaliar, em cada local, a forma como será feita a ligação às escolas — um dos nossos objetivos com esta campanha — e a definir os participantes dos debates”, nota.

A ideia é que estes encontros reúnam professores ou representantes escolares, um representante do espaço e um especialista convidado, promovendo uma hora de diálogo em torno de casos reais e soluções práticas. “No fundo, transformamos o centro comercial num verdadeiro espaço de aprendizagem e de partilha”, resume a responsável.

Para mais informações sobre a campanha “Zona Zero Ecrãs” e o calendário em cada centro comercial, consulte zonaceropantallas.com.