Quando falamos de Plutão, sentimos um certo estranhamento, como se o nosso inconsciente nos desse um alerta; sentimos uma espécie de temor respeitoso, uma certa desconfiança, somos remetidos a algo profundo dentro de nós. Plutão é um deus que nos exige esse respeito temeroso e, mesmo quem não conhece o seu poder, sente uma certa energia, uma aura de mistério, um estranhamento, como se algo subtil tocasse o seu corpo, a sua mente, o seu coração.
Plutão é aquele corpo no céu que o ser humano decidiu chamar de planeta anão pelo seu tamanho, não pela sua potência energética, pois essa não é devidamente conhecida.
Plutão é Hades, o deus dos infernos na mitologia, o mais poderoso de todos os deuses. Plutão remete-nos para o mais profundo dentro de nós, para o nosso inferno pessoal. Quem tem Plutão proeminente no mapa, em aspetos com os planetas pessoais (Sol, Lua, Mercúrio, Vénus e Marte) ou em casas de água (4, 8 e 12), sabe o que quero dizer com a viagem ao inferno pessoal.
Plutão é regente de Escorpião e não gosta de nuances, com ele é preto ou branco, 8 ou 80. E quando ele toca em algum planeta no nosso mapa, não há saída, a não ser aceitar as mudanças que chegam com ele. Quase nunca essas mudanças são fáceis de aceitar, pois Plutão é um planeta de destino e está diretamente envolvido na manutenção do nosso carma, o nosso caminho de vida, aquilo que está escrito por nós e para nós.
Plutão pede entrega, humildade, a arrogância é o seu pior inimigo. Ele chega e obriga-nos a ajoelhar, e se não nos ajoelharmos obedientemente, se não nos resignarmos perante os acontecimentos, ele atira-nos ao chão, sem dó nem piedade. Costumo dizer que Plutão está diretamente ligado àquele trecho do Pai Nosso que diz: “Seja feita a Vossa vontade”. O que ele quer é que aceitemos que existe um poder, uma força superior a nós e que, em certos períodos da vida, o nosso arbítrio cai por terra; deixamos de ser donos de nós mesmos e não temos escolha, a não ser aceitar.
Quando esse momento chega, o da aceitação e entrega – e esse momento normalmente chega quando estamos destroçados de tanto apanhar e lutar contra –, o milagre começa a acontecer. Plutão significa “o dispensador de riquezas”, e com ele, receberemos e viveremos as maiores riquezas e ganhos que o nosso destino nos promete.
Quando deixamos a arrogância de lado, quando a nossa consciência mais profunda emerge, quando percebemos que a nossa tarefa é interior antes de mais nada, Plutão presenteia-nos com tudo o que merecemos e um pouco mais. Toda a riqueza escondida nos recantos dos oceanos das nossas almas vem à superfície e percebemos o melhor de nós. Crescemos, evoluímos, damos um passo em frente no nosso processo de vida.
É por isso que Plutão é tão temido, porque com ele não existe meio-termo, não existe mais ou menos, é tudo ou nada. A escolha entre nos entregarmos a uma força maior, ao nosso destino, que podemos chamar de Deus, Inteligência Superior ou inconsciente, está nas nossas mãos. Mas, infelizmente, essa escolha só a fazemos quando não temos mais forças para lutar contra a maré; infelizmente, o nosso ego não permite, a não ser quando é destroçado por essa força.
Quando isso acontece, sentimos uma estranheza agradável, algo que nunca experimentámos antes de Plutão nos tocar. Sentimos que cumprimos mais um pedaço do nosso carma, que demos mais alguns passos na nossa estrada e que agora, sim, estamos no caminho certo. E esse sentimento traz-nos uma paz que nunca sentimos, nunca vivemos antes de conhecermos a força deste misterioso e poderoso deus.
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