Vivemos cheios de estímulos, a todos os instantes podemos pegar — por exemplo — num telemóvel e ser confrontados com um sem fim de informação, com um sem fim de sugestões para sermos uma versão melhor de nós próprios, para ocuparmos o nosso tempo e para agirmos de determinada maneira.

A verdade é que essa permanente estimulação e acesso a conteúdos contínuos, num primeiro momento, parece que nos preenche, que nos faz ter mais ideias, que nos alavanca, no entanto, a longo prazo tende a trazer-nos a sensação de permanente insatisfação, a sensação de que por nós próprios não conseguimos ser suficientes, ocupar o tempo, criar e conquistar.

Muitas vezes, os estímulos são tantos que temos a ideia que estamos a absorver informação, embora apenas a estejamos a consumir em piloto automático, a sermos confrontados por ela, sem a processarmos e  integrarmos dentro de nós. Sempre que este registo se dá, vamos-nos desligando da vida, vamo-nos desligando de nós próprios e sentindo uma certa falta de entusiasmo e de energia anímica.

Por tudo isto, precisamos de encontrar o equilíbrio entre o mundo digital e o mundo real, entre os estímulos que vêm de fora e a nossa própria capacidade de para além de ver e reproduzir, criar, sonhar e concretizar.

Só nos sentiremos verdadeiramente satisfeitos e inteiros, se nos sentirmos capazes, se nos sentirmos suficientes. Para nos sentirmos suficientes, não nos podemos sentir absolutamente dependentes dos estímulos que estão no exterior, precisamos de nos sintonizar com o nosso interior.

E a melhor forma de o fazermos e de sentirmos o nosso mundo interno habitado, energizado, criativo e capaz de alimentar as relações importantes para nós, precisamos de obrigatoriamente conseguir parar, precisamos de saber viver na ausência de estímulo, no silêncio que nos confronta connosco próprios e nos leva a níveis superiores de autoconhecimento e de sensibilidade emocional.

Lembremo-nos que é na ausência de estímulos, no silêncio e, por vezes, até no tédio que se abre espaço para a nossa reativação, que o nosso interior e o nosso pensamento tende a desbloquear, a sair do piloto automático e a fazer acontecer de forma criativa e autêntica.

Por tudo isto, lembra-te sempre que do silêncio e da ausência de estímulos exteriores intensos, pode nascer a força e a ação.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.