Prosseguindo no que já vem sendo hábito, a Ar de Filmes/Teatro do Bairro volta a ocupar nesta época estival as Ruínas do Museu do Carmo com uma nova criação, desta vez uma das mais emblemáticas comédias de William Shakespeare, na versão traduzida por Sophia de Mello Breyner Andresen, anunciou a produtora.
António Pires dirige um elenco de doze atores, num espetáculo que será legendado em inglês e vai estar em cena até 20 de agosto.
“Escrita na época do Maneirismo (1515-1600), trata-se de uma comédia de notória complexidade que aborda um conjunto de temas diversificados e ainda hoje controversos”, descrevem os promotores.
A peça encena a contradição do pensamento humano, em vez de se limitar à visão de uma única personagem, iluminando um conjunto vasto de figuras que, pela sua extrema variedade, evocam e representam a humanidade inteira, na partilha da mesma condição de finitude e do mesmo destino imperecível.
“Shakespeare confronta-nos com o problema das limitações do conhecimento empírico sensorial, exprime a reação coletiva às vicissitudes da reputação individual, denuncia a situação da mulher no contexto patriarcal da sociedade isabelina, reflete sobre a sequência amor-casamento-família e respetivo estatuto social, observa o luxo e a ostentação da burguesia mercantil em ascensão, e finalmente problematiza a hierarquia dos valores que convergem para o sentido da honra, da autoestima e da dignidade individuais”, descreve a produtora, em comunicado.
Este texto constitui ainda um documento sobre o “sistema complexo de comunicação interpessoal e os efeitos manipuladores produzidos pela mensagem no interlocutor, a pluralidade de níveis linguísticos e as suas variações de acordo com a origem socioeconómica”.
Nesta comédia, em que nada é exatamente o que aparenta ser, a ação decorre em Messina, capital da Sicília, e gira em torno da suposta quebra de castidade antenupcial de uma dama, de nome Hero, que, alegadamente, consentiu o acesso de um amante ao seu quarto durante a noite.
Segundo normas e costumes vigentes, tal cumplicidade tornava-a indigna do noivado com Cláudio, que a repudiou no altar. A punição previa ainda a pena capital, a menos que fosse provada a sua inocência.
Como se veio a verificar, afinal, a acusação de infidelidade de Hero – em que até amigos e familiares acreditaram – resultou do rancor e despeito de D. João, que não hesitou em recorrer à difamação, crime lesivo da honra e da reputação femininas.
Uma vez desfeito o equívoco, que dera azo a que se julgasse a jovem desaparecida e morta, a situação encaminha-se para o apaziguamento e harmonia finais, a que não faltam a punição da afronta e o prémio da virtude, num desfecho coroado por um duplo enlace matrimonial da geração mais jovem, representada por Hero e Cláudio, a par de Beatriz e Benedito.
O espetáculo conta com as interpretações de André Marques, Carolina Campanela, Carolina Serrão, Eduardo Frazão, Graciano Dias, Gonçalo Norton, Hugo Mestre Amaro, João Barbosa, João Sá Nogueira, João Veloso, Mariana Branco e Mário Sousa.
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