
Aberto desde março deste ano, há no restaurante Bonança algo a aproveitar sobretudo enquanto o verão proporciona momentos mais dedicados ao lazer. Situada na Doca de Belém, com vista para o Tejo, o Padrão dos Descobrimentos e toda a envolvente náutica, a esplanada do Bonança — que na realidade é coberta o que faz com que funcione o ano inteiro — soma-se aos diferentes ambientes já criados dentro do restaurante.
Dividida em duas zonas, Açores e São Tomé, a esplanada soma-se mais de 180 lugares do restaurante e foi pensada como um prolongamento natural do conceito Bonança: história, partilha e viagem. “Sempre sonhámos criar um lugar que refletisse a alma de Lisboa, virado para o Tejo, cheio de luz, de história e de boas energias. A nossa esplanada é isso mesmo: um refúgio perfeito para os fins de tarde, com vista para o rio, boa música e aquela sensação de que não há pressa”, sublinha Salvador Sobral, um dos sócios do projeto.
Inaugurado na histórica Associação Naval de Lisboa — o mais antigo clube náutico da Península Ibérica —, o Bonança constrói a sua identidade na herança marítima portuguesa. À entrada, sobressai o mural restaurado por Pureza Peres e Anaísa Franco, do coletivo WOA – Way of Arts, que representa a oferta de D. Manuel I ao Papa Leão X, ligando o passado dos Descobrimentos a um presente feito de encontros culturais. O espaço, desenhado pelo Oani Studio com a arquiteta Vera Onofre, combina sofisticação e conforto, com salas de diferentes atmosferas, entre as quais a intimista Vasco da Gama.
Na cozinha, o chef Carlos Nunes assina uma carta que privilegia peixe e marisco, com forte vocação para a partilha. Há arrozes de mar, como o de carabineiro (34€) ou de lingueirão (25€), petiscos para um final de tarde descontraído — das amêijoas à Bulhão Pato (25€), às gambas à guilho com pão torrado (24€), ou croquete de vaca e mostarda (3,5€) — e pratos mais ousados, como o carpaccio de camarão vermelho com ovas de truta e vinagrete de yuzu kosho (25€). Para quem procura uma experiência mais rápida ao almoço, está disponível um menu executivo (28€, de segunda a sexta-feira, exceto feriados), que inclui couvert, prato principal, bebida e café.
Se é daqueles que não termina a refeição sem um doce, a carta de sobremesas oferece opções que vão do clássico ao criativo como Crème brûlée de baunilha e frutos vermelhos (7,5€), chocolate negro com gelado de avelã & cacau (9€) — que arriscamo-nos a dizer que seja uma das mais pedidas —, pão de ló com azeite, flor de sal & gelado de laranja (duas pessoas, 12€) ou as mais concensuais fruta da época (5€) e gelado artesanal (5€).
À mesa, a experiência ganha outra dimensão com a carta de vinhos. A seleção é da responsabilidade de Fernando Cortes, head sommelier com passagem por casas de referência como o Eleven, em Lisboa, ou o Vistas, no Algarve. A lista cruza rótulos nacionais e internacionais, com escolhas pensadas para acompanhar tanto os pratos de inspiração portuguesa como as propostas mais criativas, reforçando a ideia de viagem que marca todo o projeto.
Cocktails que contam histórias
Mas é ao cair da tarde, que a esplanada ganha outra vida, quando a carta de cocktails começa a ser explorada. Da responsabilidade de Filipe Ventura, chefe de bar, a proposta foi concebida como uma extensão do conceito Bonança. “A intenção foi usar ingredientes que vinham das antigas colónias e que fizeram parte das viagens portuguesas. Nem sempre é fácil, mas tentámos ao máximo criar essa ligação”, explica ao SAPO Lifestyle.
Entre as criações de autor, destacam-se o Boa Esperança (14€), à base de tequila com infusão de abacaxi e lavanda, agave, sumo de abacaxi, sumo de lima e espuma de chocolate branco, uma “grande surpresa, que não sabíamos se ia resultar, mas acabou por ser o que mais vendemos”, revela o responsável. No Madeira (15€), que combina gin, manjericão, coentros, cardamomo, vinho da Madeira e pepino, o licoroso português veio substituir o xerez da receita original. “Fez sentido arriscar essa alteração, já que a Madeira foi o primeiro ponto dos descobrimentos”, explica.
Outras propostas, como o Melinde (14€), feito com bourbon e infusão de abóbora e chocolate negro, Diu (14€), de rum, água de côco, sumo de ananás, xarope de açúcar e chá de Oolong), o Goa (15€), com mezcal, maracujá, sumo de limão, prosecco e baunilha ou o Malaca (14€), de vodka com infusão de pêra, sumo de meloa e sumo de limão, mostram o cuidado com que cada cocktail procura traduzir sabores e histórias de viagem.
Para quem prefere opções sem álcool, há mocktails como o Brasil (10€), feito com manga, lima, laranja e ginger ale. Já as sangrias têm preços que variam conforme a base: Espumante (32€), com maracujá, maçã verde ou frutos vermelhos e Vinho Branco (28€), também com maracujá, maçã verde ou frutos vermelhos.
A carta que está em vigor desde a abertura do restaurante está, no entanto, em constante transformação com Filipe a confessar que nem todas as experiências são bem-sucedidas ou apresentadas no momento certo. "Houve um cocktail com jasmin que não convenceu, é demasiado adstringente", admite, mas esse risco faz parte do processo. “Não sigo sempre as regras. Faço como gosto, e é isso que dá identidade. Às vezes resulta, outras não, mas é assim que encontramos sabores diferentes”, diz, frisando que toda a carta é desenvolvida em equipa.
A apresentação também desempenha um papel central com copos fora do habitual, decorações sempre comestíveis e detalhes que prolongam a ideia de viagem. Como sublinha Filipe Ventura, “um cocktail tem de contar uma história, não basta saber bem.”
Se durante o dia a esplanada é palco de refeições demoradas e fins de tarde soalheiros, à noite o Bonança reinventa-se. Sextas e sábados, o espaço prolonga-se até às três da manhã, com programação musical curada por Pedro Costa, com DJs, música ao vivo e performances que acrescentam energia à experiência.
Como escrevíamos na primeira visita, mais do que um restaurante, o Bonança quer afirma-se como ponto de encontro cultural e gastronómico, unindo história, sabores e música. E, neste final de verão, é na esplanada, com o rio aos pés, a luz de Lisboa a mudar de cor e um copo na mão, que a viagem começa.
O SAPO Lifestyle esteve no Bonança a convite do restaurante.
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