A Sícilia é uma das regiões mais fascinantes de Itália. Como Goethe, esse grande filósofo viajante, um dia disse, “visitar Itália sem ir à Sicília não é visitar Itália”. Sendo uma ilha, o seu relativo isolamento permitiu que as tradições populares se mantivessem mais puras, menos adulteradas pela inevitável marcha do progresso que no último século imprimiu uma elevada dose de estandardização cultural às várias regiões do globo.
A Sicília, apesar de parte integrante de Itália, soube preservar uma identidade muito própria, fruto da sua insularidade mas também do facto de ter sido um reino independente até 1860. Uma parte desse DNA regional, como é normal acontecer em Itália, um país que literalmente
“se come” tal é a importância que as tradições gastronómicas ali têm, tem a ver com a cultura da mesa. É essa riqueza que lhe queremos dar a conhecer nestas linhas.
A cozinha siciliana é riquíssima e foi sendo criada ao longo dos séculos pelos diversos povos que conquistaram a ilha, seduzidos pela sua importância geo-estratégica no Mediterrâneo e pela riqueza das suas terras. Por ali passaram romanos, gregos, normandos e árabes, Habsburgos e Bourbons. Todos foram deixando traços culturais, nomeadamente no que diz respeito aos produtos que cultivavam, aos animais que criavam, às preparações culinárias que tinham. Essa amálgama cultural, muito mais evidente na Sicília do que no resto do país da “bota”, foi a responsável pela especificidade da cozinha siciliana, que conseguiu ter carater suficiente para chegar aos nossos dias.
Alguns dos seus pratos mais tradicionais incluem Caponata (uma salada feita com beringela, azeitonas, alcaparras e aipo), Scinfione (espécie de pizza primitiva feita com massa de pão, tomates, cebolas e anchovas), Maccu (sopa de feijão), Arancine (bolas de arroz fritas) ou Cannoli (cilindros recheados de açúcar e queijo ricotta). Em termos de peixes e carnes, os sicilianos têm muitos pratos à base de cabra, borrego, peixe-espada, sardinhas e choco.
Diz-se que o “gelato” terá sido inventado na Sicília pelos árabes, que utilizam o gelo trazido do Monte Etna ao qual juntavam sabores para fa zer o seu “sarbat”, o atual sorvete.
No século XVII, um siciliano de nome Francesco Procopio levou esta ideia para Paris e desde então os gelados sicilianos começaram a correr mundo e acabariam por ser re-baptizados de “italianos”.
Quem visita a Sicília tem muito facilitada a escolha de restaurantes, porque qualquer local, da mais básica “trattoria” ao “più sofisticato ristorante”, oferece invariavelmente uma cozinha de grande qualidade feita à base de ingredientos frescos “del paese”. Os italianos em geral, e os sicilianos em particular, parecem aprender a cozinhar antes de aprenderem a andar, sendo tal verdade para homens e mulheres. Aqui, como provavelmente em nenhum outro local do mundo, a cozinha está no sangue das pessoas, que a praticam com simplicidade, sabor e grande genuinidade. Também por isso a Sicília é um delicioso destino gastronómico.
singulariedade ou pela particular qualidade da sua oferta gastronómica. Para que possa ter boas moradas na inevitável visita que vai ter de fazer à Sicília, aqui vai a nossa lista:
Restaurantes tradicionais/contemporâneos
Uma das grandes referências da ilha é o “DonnaCarmela”, um pequeno hotel no campo onde se faz uma cozinha siciliana tradicional mas com um toque de modernidade. Outro local fantástico e incomum é a “Antica Stazione Ferroviaria Ficuzza”, em Ficuzza, uma antiga estação de comboios que foi reconvertida num hotel de charme com um restaurante. É um dos segredos mais bem guardados da ilha.
Restaurantes com estrelas Michelin
Existem 4 restaurantes com estrelas Michelin na ilha, sendo que três deles estão em Taormina, o que por si só indicia que esta cidade, capital turística da Sicília, é um local a não perder também em termos gastronómicos. Ali, nessa cidade encrustada na encosta sobranceira ao Mediterrâneo, existem grandes templos da alta cozinha siciliana como o “La Capinera”, o “Principe Cerami”, e a “Casa Grugno”. Em Licata, fica um dos dois restaurantes que rivalizam pelo posto de melhor restaurante da ilha, o La Madia do Chef (ou Monsu, do francês “Monsieur”, como aqui chamam aos grandes cozinheiros) Pino Cuttaia. O outro concorrente é o Al Duomo do “Monsu” Ciccio Sultano, em Ragusa, talvez a mais bonita cidade histórica da Sicília.
Restaurantes tradicionais
As escolhas abundam mas algumas das melhores moradas incluem o “La Rusticana” em Ragusa Ibla, a “Taverna Nicastro” em Modica, a “Osteria Al Duomo” em Cefalu, o “Bye Bye Blues” em Mondello (o nome pouco siciliano esconde afinal um excelente restaurante de cozinha local), o “La Scudiero” em Palermo, o “Don Camillo” na deslumbrante Siracusa e o “Monte San Giuliano” em Erice, famoso pelos seus pratos que mostram a influência árabe na ilha.
Na rua
Dizem que o melhor local para comer na Sicília é na rua. Graças a Deus, a europa tecnocrata ainda não conseguiu entrar na ilha com as suas paranóias de higiene alimentar, o que faz com que na Sicília ainda subsistam certas tradições populares que fazem dela ainda mais interessante. Por todo o lado, em cada esquina, em cada piazza, existem bancas que vendem petiscos locais feitos ao momento em frente dos nossos olhos, que também comem e não é pouco. Quem visita a ilha não consegue ficar indiferente aos “carciofi ripieni alla griglia” (alcachofras recheadas grelhadas), saladas frescas com azeitonas variadas, filetes de peixe com tomates maduros a acompanhar, e até couscous variados que evocam na boca as memórias da passagem dos Árabes pela Sicília.
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