Dino D'Santiago e Whoopi Goldberg estiveram à conversa com a jornalista Catarina Carvalho, no segundo dia do Tribeca Festival Lisboa.

Sob o tema 'Innovation Meets Imagination. How the New Storytelling in Media, Music, and Animation Is Empowering Diverse Voices (and Communities)', ou 'Inovação e Imaginação. Como o Novo Storytelling nos Media, Música e Animação está a Empoderar as Vozes Diversas (e as Comunidades)', em português, a dupla protagonizou uma das 'talks' mais emotivas do festival de cinema.

Numa conversa marcada pelas questões raciais, falou-se do sentido de comunidade, mas também do papel do indivíduo.

"A minha mãe dizia: podes ir com a matilha, mas tens de fazer o que eles querem. Ou podes ser um indivíduo, mas muita gente não vai perceber e não vai querer estar contigo. Mas é importante estares confortável em seres tu próprio, nada mais interessa", disse a atriz, que referiu preferir ser uma inspiração para as pessoas e não um modelo a seguir.

"Faço coisas que não quero que as pessoas façam. O meu comportamento nem sempre é o melhor", acrescentou, entre risos.

Ao longo de toda a conversa, Dino D'Santiago não escondeu a admiração por Whoopi que, para si, "abriu tantas portas".

"Há pessoas muito mais talentosas do que eu que nunca vão chegar lá. Mas muitas vão, por saberem que têm a possibilidade de lá chegar", referiu a atriz que faz parte de um projeto norte-americano, com estreia para o próximo mês, de divulgação de desporto exclusivamente feminino.

Quando questionada sobre quem é que pode contar as histórias da comunidade negra, Whoopi Goldberg respondeu: "Toda a gente que as queira contar. O mesmo sobre os atores. Os atores podem fazer o que quiserem e não têm de viver dentro de caixas. O problema é quando algumas pessoas só contratam um certo tipo de pessoas e não há diversidade".

"É como na música, as pessoas achavam que só os negros é que podiam fazer hip-hop, até que o Eminem apareceu e a mente das pessoas explodiu", acrescentou, arrancando gargalhadas do público.

Dino D'Santiago, que explicou vestir um casaco 'panu di terra' (peças feitas em algodão por pessoas escravizadas que vinham da Guiné) e uns sapatos do guineense Armando Cabral, entregou então uma carta a Whoopi Goldberg.

"É sobre quem somos quando a luz se apaga. Adorava que a lesse com a sua voz. Eu passarei a ser o maior orgulho dos meus pais [que são fãs] se o fizer", pediu o cantor.

"É mesmo isto. Consigo relacionar-me com tudo", respondeu a atriz, visivelmente emocionada, ao ler aquilo que considerou um "verdadeiro poema".

Depois de ler a sua carta, na versão portuguesa, e de ter recebido uma ovação de pé, Dino presenteou ainda a convidada internacional com um quadro feito por si - uma homenagem aos escravos, em roxo e preto, fazendo referência ao filme de 1985 'A Cor Púrpura', que catapultou a atriz para o estrelato.

© TRIBECA FESTIVAL LISBOA

Criado há 22 anos pelo ator norte-americano Robert De Niro e pela produtora Jane Rosenthal, o Tribeca Festival tem a sua primeira edição europeia no Beato Innovation District, em Lisboa, durante os dias 18 e 19 de outubro.

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