É uma das fadistas nacionais que mais discos vende e mais prémios recebe, desde que lançou o primeiro disco, em 2003. Já cantou com Prince e com Mick Jagger. É a primeira artista feminina portuguesa a ter memorabilia sua no Hard Rock Cafe Lisboa e também a primeira a ver uma peça associada ao fado, um estilo musical português, património imaterial da humanidade, em destaque nas paredes de um dos restaurantes da cadeia britânica entretanto adquirida por uma empresa norte-americana.
Tinha acabado de lançar o single "Vinte vinte (Pranto)", que conta com a participação de Conan Osíris e de Branco, no passado dia 26, quando recebeu a notícia da morte do irmão, o empresário Bruno Moura Pereira, logo no dia seguinte. Antes da tragédia que abalou a família, num dos intervalos da gravação do disco que tem estado a preparar, Ana Moura tinha falado, em exclusivo, com o Modern Life/SAPO Lifestyle sobre a pandemia, sobre a vida e também sobre a carreira, uma palavra que abomina.
Os últimos tempos, por causa da pandemia, têm sido difíceis, particularmente para os artistas. Como é que os tem vivido?
Devo confessar que, como estive a gravar o meu disco, até me deu algum jeito estar parada. Deu para compor, para escrever, para ir para estúdio gravar, para estar recolhida, sem distrações... Todos esses momentos foram importantes para esse recolhimento, tão necessário, para fazer este disco.
No verão passado, consegui retomar alguns concertos. Estive em França e em Madrid, em Espanha, dois países complicados naquela altura... Com as recomendações das autoridades de saúde, foi dando para os fazer e nós temos que voltar à normalidade possível...
Tem estado a preparar um novo disco. O que é que já se pode saber? Quando é que sai e quem o produz?
Ainda não se pode saber nada... Está tudo tão incerto que não queria revelar nada. Nem sequer sei qual será a melhor altura para o lançar...
Ofereceu ao Hard Rock Cafe Lisboa um vestido que é emblemático para si. Um vestido da designer Katty Xiomara que usou nos concertos de apresentação de "Desfado", no Coliseu dos Recreios em Lisboa e no Coliseu do Porto, em 2013, numa altura em que comemorava 10 anos de carreira. Foi-lhe fácil escolher? É-lhe fácil desfazer-se das suas coisas?
Por acaso, não é. Tenho uma relação emocional muito grande com todas as peças que vou usando. Tenho tendência para as associar a um determinado acontecimento da minha vida. Este vestido está mesmo associado à digressão do "Desfado". Queria que fosse um vestido importante e que tivesse uma história importante e acabei por escolher este...
Tende a guardar as roupas e as peças que vai usando ao longo da sua carreira? É uma acumuladora?
Sim, sou uma acumuladora, embora agora, com esta questão da sustentabilidade, esteja mais preocupada com o planeta. Tenho aproveitado para transformar algumas das minhas peças mas também estava a ver se doava algumas das que lá tenho em casa...
Mas tenho muita dificuldade em livrar-me de coisas relacionadas com a minha carreira profissional. Ainda guardo o vestido da capa do meu segundo álbum, "Aconteceu". Nunca deu para o usar em concerto. Só serviu para aquela produção fotográfica. Ainda o tenho e guardo-o com imenso carinho.
Há coisas das quais nunca conseguiria desfazer-se?
Há... [risos]
Teve, o ano passado, uma canção sua, "Desfado", no genérico da novela "Quer o destino", exibida pela TVI. Essa exposição acrescida seria, num período normal, sinónimo de mais concertos mas, paradoxalmente, por causa da pandemia, não pôde beneficiar essa exposição…
Essa música já me deu muitos concertos… Já fiz muitas viagens graças a ela com esses concertos e estou extremamente grata à vida e ao universo por isso.
Há uns anos, aquando do lançamento de uma coleção de joias inspiradas na fadista Amália Rodrigues, a eterna diva do fado, assumiu a paixão pela joalharia. Entretanto, também lançou as suas, em parceria com a Portugal Jewels. Em relação a esse projeto, podemos esperar novidades ou foram apenas feitas duas coleções e, para já, não há mais perspetivas nesse sentido?
Eu quero desafiar a Portugal Jewels para fazer mais uma coleção. O meu objetivo é que as coleções vão sendo mais exclusivas e fazer mais coleções, sim...
Há quem associe as joias mais exuberantes a uma maior vaidade. Tem-se tornado mais vaidosa ao longo do tempo ou pelo que já contou publicamente da sua avó e da sua mãe, começou a ser vaidosa logo desde pequenina?
Já sou vaidosa desde pequenina mas acho que me tenho tornado ainda mais vaidosa com o tempo e também tenho valorizado mais essa vaidade. Acho extremamente importante alimentarmos a nossa vaidade. Eu, por exemplo, olhava para a minha avó e percebia que ela, mesmo estando em casa, queria sentir-se bonita. Mesmo que não visse ninguém. Eu ficava extremamente feliz por ela se sentir bonita e por ainda fazer por se arranjar. Acho isso extremamente importante, inclusivamente para a nossa saúde mental.
Vivemos hoje num mundo em que as redes sociais são uma plataforma que desperta paixões mas gera muitas críticas e alimenta muitos ódios. Houve situações em que já publicou fotografias um pouco mais ousadas. Como é que gere esse equilíbrio entre a valorização da artista, procurando não beliscar a sua imagem pública, sem todavia abdicar de ser uma mulher e uma cidadã comum?
Se partilharmos as coisas com consciência… Eu não gosto de partilhar a minha intimidade. Não gosto de abrir essa porta à comunicação social. Mas se, por acaso, me apetecer publicar uma fotografia com vestido um bocadinho mais ousado, porque não? Se eu me sentir segura para isso, vou fazê-lo. Não vou estar a pensar que isso vai levar a minha direção enquanto artista para outro lado. Não vou estar preocupada com isso. Vou valorizar o facto de me sentir segura para querer partilhar essa fotografia.
E como é que reage às críticas? Valoriza-as?
Algumas valorizo, mas quando estou segura... Eu não partilho assim tanta coisa. Muitas das pessoas que estão atentas às minhas redes sociais até me dizem que deveria partilhar mais. Eu faço histórias quase diariamente mas não partilho no meu mural regularmente. E, sempre que partilho alguma coisa, penso bastante.
Se chego à conclusão de que é para partilhar, está partilhado e pronto... Quando sinto que são críticas construtivas, gosto de lhes dar atenção e fico grata por isso. Às vezes, são só opiniões diferente que as pessoas têm. Somos todos diferentes. Outras vezes é por maldadezinha e, aí, dá para o perceber e essas palavras são para desvalorizar.
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