"A minha irmã (Cristina) e eu viemos visitar o nosso pai e, afim de obter um passaporte de saúde que nos permitisse fazê-lo regularmente, foi-nos oferecida a possibilidade de sermos vacinadas, com o que concordamos", explicou o irmã mais velha, Elena de Bourbon, num comunicado publicado em vários meios de comunicação espanhóis e confirmando reportagens anteriores que davam conta que ambas tinham sido inoculadas com uma vacina chinesa da Sinopharm.
"Se não fosse por essa circunstância, teríamos esperado a nossa vez de vacinação em Espanha", acrescenta o texto que pretende esclarecer uma polémica que surge num momento delicado para Família Real espanhola.
A vacinação das irmãs Elena e Cristina, sem seguir o protocolo vigente em Espanha, ocorreu durante uma viagem para visitar o rei emérito, exilado em Abu Dhabi devido às investigações naquele país ibérico sobre a suposta origem da sua fortuna.
Antes do comunicado oficial, um porta-voz da Casa Real recusou-se a fazer comentários à agência de notícias France-Presse, lembrando que as irmãs "não fazem parte" da família real e, portanto, as suas ações ocorrem no âmbito privado.
Espanha reage
"A vacinação das irmãs é mais uma notícia que contribui para o descrédito da instituição monárquica. Os cidadãos percebem que há tratamentos de favor e privilégios", criticou nesta quarta-feira na televisão pública TVE a ministra da Igualdade, Irene Montero, do partido Podemos.
Abertamente republicano, o Podemos costuma bater de frente com assuntos relacionados com a monarquia com o seu sócio maioritário no governo, os socialistas de Pedro Sánchez, defensores da monarquia parlamentar vigente em Espanha.
As informações geraram polémica em Espanha uma semana depois da revelação que Juan Carlos de Bourbon pagou ao Tesouro para regularizar a sua situação mais de 5 milhões de dólares em impostos atrasados, por viagens em jatos que tinham sido pagas por uma fundação de um primo distante.
Uma família a braços com a Justiça
O ex-chefe de Estado (1975-2014) de 83 anos está exilado em Abu Dhabi desde agosto, quando aumentaram as suspeitas sobre a origem oculta da sua fortuna. O rei emérito é alvo de três investigações no total.
Além disso, as informações da imprensa apareceram num momento em que Espanha forneceu, seguindo um protocolo rígido que prioriza os idosos e mais vulneráveis, as duas doses da vacina contra a COVID-19 a apenas 1,2 milhões dos seus 47 milhões de habitantes, principalmente devido a atrasos nas entregas das doses.
Um processo que não escapou a polémicas: o comandante do Estado-Maior da Defesa e o secretário de Saúde do território de Ceuta renunciaram depois de serem vacinados fora do protocolo, apenas dois de vários casos semelhantes.
Pela sua idade, 57 e 55 anos, as irmãs ainda não deveriam ter recebido a vacina em Espanha.
As duas deixaram de pertencer à família real em 2014, quando o seu irmão Felipe assumiu o trono após a abdicação de Juan Carlos I.
Cristina, cujo marido Iñaki Urdangarin cumpre atualmente uma pena de 5 anos e 10 meses de prisão por corrupção, tem residência oficial na Suíça.
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