Durante anos, especulou-se que a rainha poderia renunciar a favor do filho, atualmente com 73 anos, como fizeram outros monarcas europeus - Espanha, Bélgica ou Países Baixos -, ou até favorecer uma passagem da coroa diretamente para o príncipe William, mais jovem e popular.
Mas o que está a acontecer, diz o jornalista Robert Jobson, é uma "transição constitucional não oficial", em que a rainha permanece como chefe de Estado, mas o príncipe Carlos assume mais deveres públicos importantes,
Nos últimos meses, foram vários os eventos em que o príncipe Carlos representou a monarca, como foi o caso do Remembrance Day e da cimeira climática promovida pela ONU (COP26), em novembro, da cerimónia da Commonwealth (organização que congrega Estados e territórios que integraram no passado o império colonial britânico), em março, da missa de Páscoa, em abril, ou da abertura oficial do parlamento britânico, que ocorreu este mês.
"Não é uma regência, mas o herdeiro está a assumir funções, que já fazia com visitas de Estado ao estrangeiro há alguns anos", explicou Jobson.
Uma regência pode ser declarada quando se considera que o monarca está mentalmente incapaz, como aconteceu com Jorge III em 1811, tendo o filho, futuro rei Jorge IV, assumido o papel de príncipe regente até à morte do pai em 1820.
Pelo contrário, a rainha está lúcida e foi intencionalmente que expressou em fevereiro, para marcar os 70 anos desde a ascensão ao trono, o "desejo sincero" que a nora, Camilla, seja chamada de "rainha consorte" quando o filho foi coroado rei.
A questão do título de Camilla Parker Bowles, que manteve uma relação extraconjugal com Carlos antes de se casar com ele em segundas núpcias em 2005, foi sempre delicada e adiada, devido ao afeto popular pela primeira esposa do príncipe herdeiro, a princesa Diana.
Porém, foi a cerimónia de abertura do parlamento, também conhecida por Discurso da Rainha, quando é apresentado o programa legislativo do Governo, que foi vista pelos especialistas como um acontecimento chave.
Todas as primeiras páginas dos jornais do dia seguinte mostraram Carlos ao lado da Coroa Real Imperial que ele vai herdar, acompanhado pela mulher, Camilla, e o filho William, segundo na linha de sucessão.
O evento é um símbolo do papel constitucional do chefe de Estado e a cerimónia inclui toda uma pompa e tradições seculares que sublinham a força das instituições políticas britânicas, neste caso a robustez da monarquia.
"Enquanto a rainha assistia pela televisão ao filho mais velho a apresentar os objetivos do Governo, deve ter sentido que a monarquia está em boas mãos", escreveu o repórter fotográfico Arthur Edwards no jornal The Sun, para o qual acompanha a família real desde 1977.
Ao mesmo tempo, o repórter ironizou que "o príncipe teve o que deve ser o estágio mais longo para qualquer trabalho".
No dia do seu 21.º aniversário, a então princesa Isabel prometeu dedicar a sua vida "longa ou curta" a servir o país, pelo que o mais provável é que só a morte desencadeie a sucessão.
O príncipe Carlos poderá por isso ainda ter de esperar, caso Isabel II atinja a longevidade da rainha-mãe, que morreu aos 101 anos.
Mesmo assim, o historiador Ed Owens acredita que está em curso uma "abdicação em câmara lenta", com o aproximar do fim da era isabelina, escreveu no jornal The Guardian.
Nos próximos meses, eventualmente anos, "podemos esperar ver cada vez mais o príncipe Carlos e cada vez menos a rainha, à medida que um reinado chega ao fim e um novo reinado começa", frisou o historiador.
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