Beatriz é uma das vítimas da chamada “doença das palavras”. Durante mais de um ano e sempre que olhava para os colegas da turma, acreditava que sofria de um problema: não era inteligente. Por muito que se esforçasse – e se se esforçava... - não conseguia aprender a ler e a escrever. A professora, na escola, e os pais, em casa, bem tentavam que evoluísse, mas... parecia que se passava algo com a Beatriz que não permitia que isso acontecesse. Faltava-lhe foco, memória e organização. E ainda que não o verbalizassem, os pais sentiam que havia algo de diferente na Beatriz.

Enquanto as outras crianças já liam e escreviam sem grande dificuldade, Beatriz parecia estagnada, quase no “grau zero” da aprendizagem. E à medida que os dias iam passando, as dificuldades mantinham-se, fazendo com que o seu ano escolar ficasse em perigo. Nessa altura, Beatriz começava a denotar graves sinais também ao nível da autoestima. Preocupados, os pais procuraram ajuda especializada e, finalmente, lá tiveram acesso ao diagnóstico: Beatriz apresentava um quadro de dislexia. Mas, o que é, afinal, a dislexia? – perguntavam-se os pais, assustados. Em poucos minutos ficaram a saber. E com isso, veio também uma explosão de sentimentos: primeiro surgiu a negação, depois a zanga, veio também a depressão e... por fim, vieram a aceitação e... a esperança!

Ao início, a explicação, como era suposto, não os sossegou - nem podia, claro! - mas, ao menos, lá caía o mito: não é uma questão de falta de inteligência. Não. Einstein tinha dislexia. Bill Gates também.

Como ajudar? 

Há, de facto, muita coisa que precisa de saber. Antes de tudo informe-se. Investigue. Faça perguntas. Procure as terapias mais adequadas. Conhecer bem esta perturbação poderá fazer a diferença. Descubra como lidar com a dislexia e quais as alterações existentes no cérebro de uma pessoa com dislexia e suas consequências. Tenha também em atenção que é possível superar a dislexia com bons resultados, no entanto, não é possível curá-la. Ela não é uma doença. Ela caracteriza-se por ser uma Dificuldade de Aprendizagem Especifica de carácter permanente.

Estima-se que afete 600 milhões de pessoas em todo o mundo e, no caso de Portugal, verifica-se em mais de 5 por cento da população. De acordo com as investigações, afeta mais o sexo masculino, numa proporção de 3 para 1. Mas é importante saber que Beatriz não tem dificuldade em compreender a linguagem. Não. No caso da Beatriz o problema está na codificação fonológica, ou seja, quando tem de transformar palavras e sons num código escrito.

A deteção precoce desta perturbação é fundamental. Isto porque quanto mais cedo se puder intervir, melhores serão os resultados. Por ser um processo complexo, os erros de diagnóstico são, infelizmente, comuns, sobretudo se realizados por técnicos não especializados.
É, por isso, importante encaminhar uma criança com dificuldades na aquisição da leitura e da escrita para uma avaliação especializada, para que se perceba, com exatidão, a natureza das suas dificuldades.

Esteja atento aos primeiros sinais:

1- Problemas no desenvolvimento da linguagem
2- Dificuldade na aprendizagem das letras e no processo de leitura
3- Erros ortográficos em demasia
4- Confusão entre letras e palavras
5- Leitura muito lenta e com várias incorreções
6- Dificuldade em memorizar tarefas escolares
7- Dificuldade de adaptação a uma língua estrangeira
8- Fracas avaliações

Se identificou alguns destes sinais na criança, saiba que existem várias técnicas possíveis de intervenção na dislexia através de programas individualizados que, partindo das dificuldades identificadas em avaliação, permitem uma adequada atuação. As abordagens na intervenção podem ser por exemplo, ao nível da educação multisensorial e psicomotora, do treino perceptivo-motor, do desenvolvimento psicolinguístico e do treino da leitura e escrita.

Mas como cada caso é um caso, nem todas as estratégias produzem os mesmos resultados. Algumas podem mesmo não funcionar ao início, no entanto é importante não desistir de procurar uma nova solução, pois há sempre outras capazes de ir ao encontro das necessidades de cada criança.

À escola cabe um papel muito importante. Os professores devem preocupar-se em estimular a autonomia da criança, dentro e fora da sala de aula, através de instruções orais e escritas que a façam sentir-se incluída entre os colegas. É comum que as dificuldades de aprendizagem se reflitam, tal como já foi dito, numa baixa autoestima. A psicoterapia permitirá à criança desenvolver relacionamentos interpessoais mais felizes.

Converse com a criança sobre a dislexia e as suas dificuldades especificas, apresentando-a ao conceito e evitando considerações desnecessárias. Ajude-a a entender de que forma é que esta a pode afetar e de que maneira pode ser superada. Ofereça carinho, atenção e amor, essenciais para que cresça num ambiente propício ao seu desenvolvimento.

Artigo publicado por SEI - CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM